Por Janos Biro
http://antizero.rg3.net/
Um dia os criminosos se reuniram numa conferência global e colocaram o seguinte em pauta: Estamos destruindo nosso mundo. A preocupação principal era que os criminosos estavam agindo de forma muito bruta, muito violenta, muito predatória. Sua fonte de renda estava simplesmente sendo destruída, literalmente entrando em extinção. Algo certamente precisava ser feito, urgentemente, ou então os criminosos não teriam mais a quem roubar, matar, estuprar, chantagear, extorquir e explorar de uma forma ou de outra. Isto quer dizer que não poderiam mais manter seu estilo de vida.
Então vieram com esta óptima idéia: “Vamos preservar! Não matemos alguém que não precisa ser morto, assim, por pura maldade. Não tiremos absolutamente tudo que a pessoa tem. Sejamos racionais e eficientes, poupemos nossos recursos”. Chamaram essa idéia de crime sustentável, por todo o mundo se falava em “assalto consciente”, por exemplo. Analistas chegaram à conclusão que se roubassem não mais do que uma pequena percentagem de alguém, essa pessoa poderia se recuperar mais rápido, e então ser assaltada mais vezes ao ano. Este tipo de discussão animou os criminosos mais intelectuais, que se empolgaram e escreveram muitos artigos sobre as excitantes novas perspectivas, novos paradigmas e novos rumos para o crime. Diziam coisas como: “Um crime mais humano é possível” e “Devemos ter respeito pelo que exploramos”.
Esta parábola, que pode parecer exagerada, é apenas uma amostra do erro que estamos cometendo em relação à ecologia. Enquanto animais morrem no zoológico de Goiânia, continuamos gastando milhões com os animais do zoológico de Brasília. Parece que suas exibições já se tornaram espetáculo. Há tanta mentira na política brasileira quanto no ambientalismo que promove o “desenvolvimento sustentável”, com um agravante: em questão de política, pelo menos temos a intuição de que há uma rede intricada de falsidades. Quanto ao ambientalismo, parece que ainda não percebemos quão enormemente ilusória é a história que estão nos contando.
As pessoas comuns tendem a achar que existe uma “crise de consciência”atingindo os “poluidores e destruidores do mundo”, e que agora, realmente, percebemos o mal que estamos fazendo e estamos nos encaminhando para uma mudança de modo de vida, que irá nos ajudar a deixar um mundo melhor para as gerações futuras.
O primeiro erro é achar que há alguma coisa de novo nessa preocupação. A idéia de que a preocupação ecológica é recente parece ter a intenção de encobrir o facto e a memória de que as medidas do passado, que visavam restabelecer o “equilíbrio entre o homem e a natureza”, falharam miseravelmente, e que estamos repetindo os mesmos erros há séculos. Não é preciso ser um especialista para ver que a longa história da relação entre o homem civilizado e a natureza está cheia de fracassos colossais em termos de alcançar uma “convivência harmoniosa”. Já na antiguidade havia pensadores preocupados com o desmatamento e com as barragens. Nada disto é novo, e é patente que as coisas pioraram, apesar de toda a preocupação. Tendemos a achar que somos mais “conscientes” hoje porque temos mais acesso à informação.
Nós hoje culpamos o petróleo e falamos de aquecimento global, mas houve um momento no passado em que o petróleo era a promessa de energia mais limpa e eficaz. O petróleo já foi o que hoje é o biodiesel: uma alternativa ecológica, só não tinha esse nome. A falha obviamente está em achar que basta que consigamos fontes de energia alternativa para mover nossa tecnologia actual. Dizer que vamos conseguir mover nossos carros sem poluir seria como, há 200 anos, dizer que conseguiríamos mover nossas carroças sem cavalos. Sim, é verdade, e daí? A ingenuidade está em ignorar que se nós continuarmos com a mesma mentalidade que substituiu as carroças por carros, então iremos inventar algo muito pior que os carros. É claro que, este julgamento valorativo será impossível até que o problema seja “irreversível”. Até quando vamos seguir este “padrão”? Quantos efeitos retroactivos nós poderemos acumular num mesmo sistema?
O segundo erro é localizar os “culpados” erroneamente. O ambientalismo actualmente está focado no consumo. Mas ele não critica a relação entre produção e consumo na modernidade, ele não tem legitimidade para criticar isso. O ambientalismo tenta falar de “responsabilidade dos indivíduos” porque é exactamente este o discurso que a sociedade do consumo quer ouvir. Como bons modernos, qualquer coisa que não esteja centralizada no indivíduo não nos parece muito agradável. Eles dizem que o foco é o ser humano, mas querem dizer que o foco são os consumidores.
Tentamos fazer uma ponte entre o ambiental, o social e o político. Isso avança muito lentamente, mas a questão não é simplesmente acelerar o processo, é compreender que simplesmente intercomunicar essas “áreas de actuação humana” pode nem sequer se aproximar de algo significativo. O problema pode estar em algo mais básico do que aquilo que apenas permeia estas áreas. Pode estar na nossa visão de mundo, nos pressupostos de nossa cultura. Pode estar além do alcance de qualquer questão “transdisciplinar”.
Tem havido algum debate sobre o fim do ambientalismo, e sobre a mudança dos “verdes” para os “azuis”. Segundo o propositor do movimento azul, Adam Werbach, nós devemos deixar de ser ambientalistas para nos tornarmos “progressistas”. Ele poderia ter sido mais directo, poderia ter dito logo “humanistas”. Sim, para a sociedade do consumo, a derrocada do ambientalismo parece ter se dado porque ela não foi humanista o suficiente. Adam diz que “O verde coloca o planeta no centro do diálogo. O azul coloca as pessoas no centro”.
A questão agora é como a preservação do meio pode ser boa para a economia, pois não há diálogo em outros termos. Agora há um nome oficial para a estratégia de “focar acções individuais” como se isto fosse realmente ecológico, é Projecto Pessoal de Sustentabilidade(PPS). Uma pequena amostra do grau de loucura a que chegamos. Com o ambientalismo se afastando velozmente da crítica à civilização, ficamos cada vez mais sozinhos.
Link para uma notícia sobre o movimento azul:
http://www.pagina22.com.br/index.cfm?fuseaction=artigoEnsaio&id=408
http://antizero.rg3.net/
Um dia os criminosos se reuniram numa conferência global e colocaram o seguinte em pauta: Estamos destruindo nosso mundo. A preocupação principal era que os criminosos estavam agindo de forma muito bruta, muito violenta, muito predatória. Sua fonte de renda estava simplesmente sendo destruída, literalmente entrando em extinção. Algo certamente precisava ser feito, urgentemente, ou então os criminosos não teriam mais a quem roubar, matar, estuprar, chantagear, extorquir e explorar de uma forma ou de outra. Isto quer dizer que não poderiam mais manter seu estilo de vida.
Então vieram com esta óptima idéia: “Vamos preservar! Não matemos alguém que não precisa ser morto, assim, por pura maldade. Não tiremos absolutamente tudo que a pessoa tem. Sejamos racionais e eficientes, poupemos nossos recursos”. Chamaram essa idéia de crime sustentável, por todo o mundo se falava em “assalto consciente”, por exemplo. Analistas chegaram à conclusão que se roubassem não mais do que uma pequena percentagem de alguém, essa pessoa poderia se recuperar mais rápido, e então ser assaltada mais vezes ao ano. Este tipo de discussão animou os criminosos mais intelectuais, que se empolgaram e escreveram muitos artigos sobre as excitantes novas perspectivas, novos paradigmas e novos rumos para o crime. Diziam coisas como: “Um crime mais humano é possível” e “Devemos ter respeito pelo que exploramos”.
Esta parábola, que pode parecer exagerada, é apenas uma amostra do erro que estamos cometendo em relação à ecologia. Enquanto animais morrem no zoológico de Goiânia, continuamos gastando milhões com os animais do zoológico de Brasília. Parece que suas exibições já se tornaram espetáculo. Há tanta mentira na política brasileira quanto no ambientalismo que promove o “desenvolvimento sustentável”, com um agravante: em questão de política, pelo menos temos a intuição de que há uma rede intricada de falsidades. Quanto ao ambientalismo, parece que ainda não percebemos quão enormemente ilusória é a história que estão nos contando.
As pessoas comuns tendem a achar que existe uma “crise de consciência”atingindo os “poluidores e destruidores do mundo”, e que agora, realmente, percebemos o mal que estamos fazendo e estamos nos encaminhando para uma mudança de modo de vida, que irá nos ajudar a deixar um mundo melhor para as gerações futuras.
O primeiro erro é achar que há alguma coisa de novo nessa preocupação. A idéia de que a preocupação ecológica é recente parece ter a intenção de encobrir o facto e a memória de que as medidas do passado, que visavam restabelecer o “equilíbrio entre o homem e a natureza”, falharam miseravelmente, e que estamos repetindo os mesmos erros há séculos. Não é preciso ser um especialista para ver que a longa história da relação entre o homem civilizado e a natureza está cheia de fracassos colossais em termos de alcançar uma “convivência harmoniosa”. Já na antiguidade havia pensadores preocupados com o desmatamento e com as barragens. Nada disto é novo, e é patente que as coisas pioraram, apesar de toda a preocupação. Tendemos a achar que somos mais “conscientes” hoje porque temos mais acesso à informação.
Nós hoje culpamos o petróleo e falamos de aquecimento global, mas houve um momento no passado em que o petróleo era a promessa de energia mais limpa e eficaz. O petróleo já foi o que hoje é o biodiesel: uma alternativa ecológica, só não tinha esse nome. A falha obviamente está em achar que basta que consigamos fontes de energia alternativa para mover nossa tecnologia actual. Dizer que vamos conseguir mover nossos carros sem poluir seria como, há 200 anos, dizer que conseguiríamos mover nossas carroças sem cavalos. Sim, é verdade, e daí? A ingenuidade está em ignorar que se nós continuarmos com a mesma mentalidade que substituiu as carroças por carros, então iremos inventar algo muito pior que os carros. É claro que, este julgamento valorativo será impossível até que o problema seja “irreversível”. Até quando vamos seguir este “padrão”? Quantos efeitos retroactivos nós poderemos acumular num mesmo sistema?
O segundo erro é localizar os “culpados” erroneamente. O ambientalismo actualmente está focado no consumo. Mas ele não critica a relação entre produção e consumo na modernidade, ele não tem legitimidade para criticar isso. O ambientalismo tenta falar de “responsabilidade dos indivíduos” porque é exactamente este o discurso que a sociedade do consumo quer ouvir. Como bons modernos, qualquer coisa que não esteja centralizada no indivíduo não nos parece muito agradável. Eles dizem que o foco é o ser humano, mas querem dizer que o foco são os consumidores.
Tentamos fazer uma ponte entre o ambiental, o social e o político. Isso avança muito lentamente, mas a questão não é simplesmente acelerar o processo, é compreender que simplesmente intercomunicar essas “áreas de actuação humana” pode nem sequer se aproximar de algo significativo. O problema pode estar em algo mais básico do que aquilo que apenas permeia estas áreas. Pode estar na nossa visão de mundo, nos pressupostos de nossa cultura. Pode estar além do alcance de qualquer questão “transdisciplinar”.
Tem havido algum debate sobre o fim do ambientalismo, e sobre a mudança dos “verdes” para os “azuis”. Segundo o propositor do movimento azul, Adam Werbach, nós devemos deixar de ser ambientalistas para nos tornarmos “progressistas”. Ele poderia ter sido mais directo, poderia ter dito logo “humanistas”. Sim, para a sociedade do consumo, a derrocada do ambientalismo parece ter se dado porque ela não foi humanista o suficiente. Adam diz que “O verde coloca o planeta no centro do diálogo. O azul coloca as pessoas no centro”.
A questão agora é como a preservação do meio pode ser boa para a economia, pois não há diálogo em outros termos. Agora há um nome oficial para a estratégia de “focar acções individuais” como se isto fosse realmente ecológico, é Projecto Pessoal de Sustentabilidade(PPS). Uma pequena amostra do grau de loucura a que chegamos. Com o ambientalismo se afastando velozmente da crítica à civilização, ficamos cada vez mais sozinhos.
Link para uma notícia sobre o movimento azul:
http://www.pagina22.com.br/index.cfm?fuseaction=artigoEnsaio&id=408
No comments:
Post a Comment