Thursday, October 17, 2013

amanhecer

Amanheceu e eu corro,
ingulo o grito, fujo a luz na correria
o grito escorre-me nas entranhas e eu seco o sentimento do outro que observo
porque é dia

E o dia prossegue, e eu guardada, mantida, preservo
como planta ingénua, aos olhos outros tão sacrificada
em silêncio mentido desminto calada
Se quero é a busca do ser íntimo preservado,
se algo é escapado de mim sem querer..
é só por breves momentos,
que foram dos doirados raios de sol quentes do entardecer
banhados em azul e roxo e não de mim

 Sou a noite, é da noite que eu sou
das verdades esquecidas, sou do ser despido,
sou desse ser desengolido, sou do mistério
sou do velho desclassificado, da alma velha vidente, do sofrido

e porque a noite revela as pessoas, as noites revelam quem sou
daquela violeta esquecida, daquela menina caída no chão
da desilusão da vida que tão diluída se passa dum jardim florido
para uma incompreensivel multidão,
multidão dos passeios sociais inconscientes

Refaço-me  nesse ser fluido, procurando respirar, o ar...
faço refluxo do que vi para ver
só no entardecer eu vejo o que a água diz

E eu me entregaria, me renderia de bom grado a essa noite tão chegada
só para esquecer que quase me cegava há instantes atrás
se houvessem braços a um homem bom,
se houvessem folhas  numa árvore despida
se houvessem lágrimas num qualquer mar que fosse suficiente
se a vida que a ainda me restasse fosse essa
e se eu finalmente a visse
já ficaria feliz de ser eterna em sentimento
se houvesse esse gosto de terra,
que eu pudesse comer
se houvesse no que eu me apaixonar
eu engoliria o chão
engoliria o chão e floria não só em roxo,
mas em todas as cores possíveis para sonhar
lavando-me em aguas de não precisar pensar

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