Como flor que abrisse fora da estação, procuro eu estar fora.
Fora para que possa ver-nos, num momento, enfim, completos.
Encontrei-me a trilhar o caminho que eu própria escolhi repleto de plantas, árvores e poucas, insípidas pessoas.
E encontrei-te no mesmo caminho que fizeste do passado, de palavras ao vento, de ventos à multidões, tão cheio de todas as razões.
Em minha mente, das lembraças que guardei, faço-te tão político, como amoroso, tão sensível às letras ao vento quanto tão forte aos teus próprios sentimentos. Como se toda a oposta existência apenas pudesse existir numa pessoa só.
Em minha visão, vejo-te num caminho muito próprio enquanto a mim, deixas que te olhe como se eu fosse flor, paisagem crua à semelhança de outras flores que encontras no teu caminho.
Em mim mesma, podia sentir raiva, tristeza, desconsolo, mas na infinitude da dor tudo o que eu sinto de mim é esse ser intocável, ausente de si, que vive como flor, ao teu olhar apenas expandida da beleza que do teu mundo tu a mim trouxeste.
Aprecio essa brisa tua, de observador, de tático, tão calculado em tudo o que eu nunca poderia ser do que sou. Aceito-te abertamente e incondicionalmente, como se agora tu tivesses porta aberta e pudesses ser conhecedor de todo o vazio que viveu dentro de mim desde que tu chegaste.
Uma vez que, dentro de mim podes encontrar tudo o que tu mesmo já viste, todo o teu passado, sendo que fui dele eu mesma tingida.
Mas eu nada mais poderia ser do que essa flor, essa estampa que se colore, esse quadro que se deixa branco. Embebeste-me com algum saber tão oposto ao que eu propria fora e foste embora, friamente, como que para eu saber que da vida, o que tenho realmente é morte e do absoluto é só a migalha que mereço ter.
E tão absolutas como no fundo eu queria, ficam apenas essas antigas memórias, que como terra desfazem-se em pó e surgem-me em camadas desfeitas de antigas dimensões, em vidas desfeitas para serem nada e serem tudo o que puderem ser outra vez. Entre todas elas eu ainda espero, como antes de te ter encontrado em flor, espero ainda apenas nelas poder fazer-me habitar.
Saturday, February 21, 2015
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