Tuesday, August 13, 2013

ranhuras

Eu trabalho no submundo, aqui onde a parede discretamente se racha,
lentamente procurando o chão
de antigos tempos de repressão aos fracos
elas falam por sua libertação

Aqui, onde as palavras humilham medos fundos do povo
e onde os que podem se gabam de nada
 Eu trabalho onde à entrada,
carros só passam aos montes e fugidios como se adivinhassem
o que ali mora ao lado
 E a entrada, a mim se mostra escura

Eu trabalho, aqui onde pessoas trabalham sem sonhos,
onde outras trabalham com sonhos camuflados
onde outras tantas trabalham para esquecer da vida e do que é viver

Eu trabalho, e o meu trabalho representa todo o trabalho que se presta sem sentir
Onde não se trabalha muito, mas representa-se com fartura,
como na vida que se desfaz em retratos
do que se poderia ser se se tivesse mais coragem de dar a vida quem se é

Eu trabalho, e no meu trabalho eu estou e não estou
E quero e não quero,
Eu faço e fora desfaço
Eu digo e fora disdigo
Eu choro para mais tarde sorrir
Eu riu por dentro e por fora mostro que temo

Na verdade, eu trabalho para ninguem
Senao para sonhos muito bem guardados
que se escondem nas brechas que as ranhuras da parede do escritório escondem
procurando o chão para que se façam grandes
dum sítio que existe só por razões que cheiram a mofo do passado,
os meus sonhos tem a cor das pétalas de uma flor que acabou de abrir.

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