«Uma vez a mão do vento assim ergueu, uma mão que sobre mim altera todo um curso de
vida
Vi-me, de repente, não mais sozinha, e sim, entrelaçada a tua
Num instante, acordei e vi-me sozinha outra vez
Acordei, sem chão, sem teto, sem alma, sem lembrar de
repente que sabor poderia ter tido a vida antes de ti
Agora vivo apenas dias e mais dias, dias seguidos de dormir e sem querer acordar, ou de acordar
para ir dormir com pouco de significância e significado entre isso.
São longos dias em que parte de mim continua cegamente a ansiar-te perdidamente, um anseio que
aquela brisa calorosa volte e te traga de novo para junto de mim
Outra parte anseia apenas esquecer, porque concluiu
abertamente que na realidade deve deixar-se viver, e andar outra vez ao sabor de
outras brisas com novas sensações
E o tempo vai passando, e eu vivendo nesse angustioso ata
desata, nesse desato que não sabe se quer desatar ou se prefere continuar atado
No fundo sei que só resta continuar o trilho e deixar te
para trás mas não resisto a saborear-te vezes sem conta
Tas ainda na minha mente e só me vejo a esperar, esperar pela
brisa que te trouxe de repente da mesma forma que de repente escolheu
expulsar-me de ti
Procuro, e vejo uma busca sem fim, vou a volta de tudo e um
pouco mais de nada encontro, tudo o que vejo são miragens, reflexos aparentes
de tudo o que tu não és
Mesmo quando imagino acabo, concluo e avesso memórias que
nunca aconteceram , tudo o que eu queria era que estivesses para as fazer
contigo
Tudo o que eu posso fazer é pôr-te na parte de uma vida a
dois que eu criei, um bocado de algo que nunca foi nem será, um passado que não
se deixa esquecer e se recusa a deixar de ser repetido
Toda a minha alma esteve completa naqueles segundos de
fôlego naqueles segundos de doce fantasia que não volta mais
Foste mesmo aquela pequena brisa apenas, que agora não deixa
de ser minha identidade, minha pátria, um retiro, uma verdade e lembranças exageradas
por romanescas sensações
“A chama que a vida em nós
criou …a mão do vento pode erquê-la ainda…”
E por isso, assim espero…»
Ausência
Cada nascer do Sol é único, o Sol teu regente num dia
ensolarado
fez tua miragem que minha alma acarinhou.
Cada lua, é bênção de amantes, que mesmo distantes um do
outro tem sua presença , nua
A lua é nua como o amor é cego a distância próxima de um
outro corpo.
E flores, são da doçura, o reflexo da amargura que se sente
de um passado
Que é o espelho partido do estado, da alma despedaçada pela
flor que murchou.
Nado vivo ou morto, o que eu sou, desses retalhos, pedaços
que conto e desconto na minha própria consciência que cegou.
Sou da partida e da chegada, da canoa e do caminho que nem
percorrido se torna descrito, que se quer escrever e agarrar o que estragou,
Quer ser nuvem, que dá para ser a ressurreição na verdade da
infância que se sonhou.
Que cores tenho na mão, da sina que me contaram para eu não
revelar quem sou?
Que tempo guardo ainda no peito, se tanto passado fez gastar
a pouca vida que restou?
Que tinta existe ainda para usar, se sou como cinza, a cinza
viva duma chama caída,
Pedra que pensa ter sido mais num passado distante. Pétala
que não sabe da própria flor.
Dor que vive no silêncio da fala que faz o coração bater,
Sombra do que criou, destruiu, nasceu, e é cego na própria
pureza.
Fui cega, nunca a mim fiz nascida, de repente foi a
minha pele quem mentiu. O lar foi fantasma para o sangue.
Perdi.
Perdi.
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