Monday, December 23, 2013

Solstício

As notícias que eu escuto são relatórios incompletos. São como vidas divididas. 
Essas notícias são como histórias sem o texto que definiria o seu enquadramento. 
Palavras vivas sem o texto que as descreve.

 Eu sinto nas pessoas isso. Que usam palavras que pouco ou nada significam. 
Que vivem como se a vida fossem factos, como se os factos não estivessem agregados a sentimentos, a momentos, a intuições, a outras pessoas e a tantas outras coisas.

Sinto na vida, algo de incompleto, um vazio na existência proposta, no ambiente de trabalho. Sinto uma impossibilidade de integração. Como se a vida fosse mais do que o dia, como se eu não aceitasse o dia sem a noite, e o consciente sem o inconsciente.
Todos dizem, feliz natal, como todos os anos, e eu, preferiria não dizer nada. Ou dizer, Feliz Solstício, para não dizer que estou cansada do que é suposto se dizer. Se eu procurasse, preencher esse vazio, não diria nada.

Ao mesmo tempo, sei que o mundo interior mesmo que não seja dito, aparece transpirado em todas as pessoas. Em piores ou melhores dias, espelhados em alguns sentimentos que surpreendidos aparecem. Pergunto-me o porquê de não ser assumido, na pureza da sua própria natureza, em todas as pessoas.
 Por vezes quando assumo o que sinto, passo ainda assim por algo que não sou. Tão poucos revelam o que sentem, tão poucos revelam quem são, que sou mal interpretada.

Em tantos eu sinto capas, apenas. Gostava de viver com pessoas dispostas a darem mais do seu íntimo. 
No sentido, de poder sentir a sua verdadeira expressão. Parecem estar desconfiadas.
Mas então, será esse o segredo da globalização? O resultado das vidas estarem a ser vividas de modo mais acelerado? Já não haverá tempo para se sentir e expressar-se o que se sente?
Eu não sei de que valeria uma vida ganha, sem a cor que eu poderia dar aos dias. 
Logo, não percebo tanta correria, ao trabalho, ao carro, aos filhos, aos casamentos e às contas para pagar.


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