As notícias que eu escuto são relatórios incompletos. São
como vidas divididas.
Essas notícias são como histórias sem o texto que
definiria o seu enquadramento.
Palavras vivas sem o texto que as descreve.
Eu sinto nas pessoas
isso. Que usam palavras que pouco ou nada significam.
Que vivem como se a vida
fossem factos, como se os factos não estivessem agregados a sentimentos, a
momentos, a intuições, a outras pessoas e a tantas outras coisas.
Sinto na vida, algo de incompleto, um vazio na existência
proposta, no ambiente de trabalho. Sinto uma impossibilidade de integração.
Como se a vida fosse mais do que o dia, como se eu não aceitasse o dia sem a
noite, e o consciente sem o inconsciente.
Todos dizem, feliz natal, como todos os anos, e eu,
preferiria não dizer nada. Ou dizer, Feliz Solstício, para não dizer que estou
cansada do que é suposto se dizer. Se eu procurasse, preencher esse vazio, não
diria nada.
Ao mesmo tempo, sei que o mundo interior mesmo que não seja
dito, aparece transpirado em todas as pessoas. Em piores ou melhores dias,
espelhados em alguns sentimentos que surpreendidos aparecem. Pergunto-me o
porquê de não ser assumido, na pureza da sua própria natureza, em todas as
pessoas.
Por vezes quando
assumo o que sinto, passo ainda assim por algo que não sou. Tão poucos revelam
o que sentem, tão poucos revelam quem são, que sou mal interpretada.
Em tantos eu sinto capas, apenas. Gostava de viver com pessoas
dispostas a darem mais do seu íntimo.
No sentido, de poder sentir a sua
verdadeira expressão. Parecem estar desconfiadas.
Mas então, será esse o segredo da globalização? O resultado
das vidas estarem a ser vividas de modo mais acelerado? Já não haverá tempo
para se sentir e expressar-se o que se sente?
Eu não sei de que valeria uma vida ganha, sem a cor que eu
poderia dar aos dias.
Logo, não percebo tanta correria, ao trabalho, ao carro,
aos filhos, aos casamentos e às contas para pagar.
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