Wednesday, March 25, 2015

Escorre me o interior

Esta ventania, escorre-me o interior
Quais becos profundos, quais estradas falantes e saltitantes

Não há o que revelar completamente
E na completa escuridão, segue-me esse sangue agitado, estes dentes

Esse golpe final, que desfia a ausência, que escorre o peito num pio
Esta ventania, cospe-me em gosto, brota-me em juras e desolações

Canta-me em sonhos passados, em gerações dos futuros sepultados nos dias finais
Toca-me em tambores universais e em embalos fugidios de terras distantes

Passa-me a pele por pétala, passa-me o tempo enquanto escorre-me as lagrimas tingidas em vão
E enquanto isso, nada há, nada passa, nada caminha, escorre-me o peito porque tudo está escuro
Tudo está por dizer, tudo ficou por falar, na partida, brotou-se me a vida em fim.

O beco, a chama, aquele dia que me amaste, o incenso, e tudo é tão calmo
E o tempo surge perene, e as vidas surgem pacatas, e o vento continua a surgir num grito desolado

Todos os dias serão dias, todos os momentos foram em vão, todas as pessoas querem amor
Corações apertados, apegados, rotos, perdidos, esquecidos não ficaram, todos partiram em turbilhão
Tudo era tão apaixonado, tudo era como essa vela acesa, como os temperos ricos da vida, tudo foi num dia frutífero assim

E os tambores continuam a tocar os dias finais, e as lagrimas continuam a porta, miseráveis a pedirem esmolas de atenção.
Mas não, não há mais o que dizer, sou a mesma esquecida, a mesma que ficou a beira da estrada, sou feita toda para dar, nos dentes de todos os lobos, com o peito aberto demais, com a vida toda ela escondida e despida, com os prantos secos da aurora, rastejante do que nunca pude ter.

E a vida permanece intocada, imaculada, inventada, quais invenções poderão haver para cobrir todo esse buraco de dor, essa passagem ao submundo, esse esquecimento eterno, passado das lágrimas caídas e dos rostos pálidos, das vidas esmagadas e mal refletidas,

quero dormir e não acordar, senti todas as sensações cedo demais, chorei mais do que o mar, e vi mais do que podia ver, quero ficar, não quero ver-te partir, deixar-me assim derretida a teus pés, sem nunca eu ter sabido de mim.

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