Lá fora chove, são lagrimas que tingem o chão, rostos que ruminam coisas que existem à superfície
Lá fora existem jovens que correm, relógios partidos pelo chão, existem flores
Seguem-se em movimento as brumas que passam cintilantes nas roupas das raparigas
E seguem-se os trilhos multiplicados até ao infinito, do céu e do mar que querem atingir as estrelas
Mas lá fora, esquecemos, bebemos e acariciamos, nós as raparigas, esquecemos de esquecer
Lá fora, nós seguimos, e vamos nos fechando cegas do gosto da dor, de engolir a própria saliva
E a ventania recai, caímos e levantamos, vestimos e nos despimos, existem as flores mas existem os retratos, existem as cinzas e existem as multidões
E os ventos não se querem recolhidos, as paisagens multiplicam-se, fogem-nos os amantes e a vida mantém-se escorrida, escorre-nos dos dedos o mundo, escorre-nos dos dedos o tempo e a verdura é jovem, é feita para queimar
Os velhos repetem-se, repetem-se as vidas, mas ninguém vai olhar para trás, o caminho é fugidio
Os moços trazem os coraçoes vazios, as saias mantém-se mais curtas, e os livros estão nas prateleiras por serem lidos trazendo ainda flores dentro, trazem o perfume, mas ninguém quer viver em vão,
ninguém quer mais do que o futuro, e os insectos comem os restos bons, e o futuro permanece no passado e somos lentas como os caracóis, no espanto de apreciar um resto que sobre do amante que foi.
Seguem-se os dias, não passam quando queremos, seguem-se minutos e segundos de vidros partidos e de crianças que ficam por nascer, de histórias não contadas, pedaços de cadernos e embalos matinais
Surge a noite renascida, num balanço de querer ser-se vida, e eu sinto-me morte, ferida da maior ferida, culpada de toda a culpa, cuspo nos versos que leio algures pela a vida e só me deito aos sons das marés, reflito para meditar nos ossos do jantar, o que seria feito do mar se falasse.
Vejo o sol em cada madrugada, sei de onde foi que ele veio, canto os goles uterinos que assaltam as imaginações distorcidas nas cabeças engolidas das multidões,
nós somos flores feitas para serem pisadas, quais gestos gentis, quais corações cordiais, existem os arrotos e as dores do parto provocadas por nós, e os sons todos são naturais
Enquanto isso, todas as vidas são gastas, o tempo é sempre contado e ainda assim algo sempre permanece.
Wednesday, March 25, 2015
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