«Sinto tudo intensamente
Como se viajasse num rio E como se não quisesse fazer uma travessia Não consigo seguir o curso profundo dos sentimentos Nem sei se me deixo afogar ou se procuro terreno seguro onde me apoiar... Porque tudo parece sem pontas e circular Tudo me faz ondular ou molha E nessa distância da terra é que vejo realmente Que tão pouco do que se vive é sentido Tão pouco realmente toca, tão pouco se sente Tão pouco do que se sente, é vida. E assim, uma folha que sobre mim cai é abrigo Nem abrigo mais são as pessoas conhecidas Se abrigo houver é o abrigo de um raio de Sol que toca docemente, a alma neste dia de Inverno E a árvore cujas folhas eu vejo cair. Porque não sinto tempo, e nem há tempo na verdade do momento E à distância tudo o que as pessoas fazem parecem coisas triviais. Se algo peço a vida, é que me jogue, que me entregue porque a mim mesma larguei no mar» Luna Marques Guarani Kaiowá Ver Mais |
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Não há o que dizer.
Se sou como quem vê a juventude e não tem voz.
Se algo sinto é algo que não é meu.
Se algo digo é algo que não sai de mim.
Sinto, esse ser desconexo, eterno em ser fora do contexto.
Sou o movimento que é reflexo de qualquer coisa a mais.
Sinto o que sinto, e não há nada que o faça dizer
Dou e está dado, nada retorna a mim sem querer.
Escorre-me um frio interno que nada de fora me faz exprimir
Palpita-me um peito que chora, que cava fundo de mais e assusta o que de fora,
estivesse para vir.
Sou na vida do emigrado, do refugiado
Refugiada que sou em minha própria vida que prende
Sou de quem sofre e não pode, justificar a si próprio a sua própria dor
Fui enviada para o lugar errado, de uma forma impossível de explicar
E eu fui enviada para guiar, tudo aquilo que eu não sou.
E quem eu sou fica por dizer, engolida e sacrificada.
Parada, sem mais o que fazer do que existir
Vivo num tempo que nem é futuro nem passado nem presente,
é o tempo do viajante parado numa cidade isolada.
E há quem diga que eu devia pedir ajuda
Mas se eu fosse não teria o que dizer
Ou no mínimo não seria compreendida.
Porque sinto o vento e nele ao mesmo tempo estou.
Porque sinto ao contrário do exterior
Sinto para dentro e para fora sou só miragem
Quem me ve como sou não me vê em nada
Eu nem eu própria sou, senao qualquer coisa que paira.
E de mim nunca tenho nada a dizer.»
Luna Marques
Se sou como quem vê a juventude e não tem voz.
Se algo sinto é algo que não é meu.
Se algo digo é algo que não sai de mim.
Sinto, esse ser desconexo, eterno em ser fora do contexto.
Sou o movimento que é reflexo de qualquer coisa a mais.
Sinto o que sinto, e não há nada que o faça dizer
Dou e está dado, nada retorna a mim sem querer.
Escorre-me um frio interno que nada de fora me faz exprimir
Palpita-me um peito que chora, que cava fundo de mais e assusta o que de fora,
estivesse para vir.
Sou na vida do emigrado, do refugiado
Refugiada que sou em minha própria vida que prende
Sou de quem sofre e não pode, justificar a si próprio a sua própria dor
Fui enviada para o lugar errado, de uma forma impossível de explicar
E eu fui enviada para guiar, tudo aquilo que eu não sou.
E quem eu sou fica por dizer, engolida e sacrificada.
Parada, sem mais o que fazer do que existir
Vivo num tempo que nem é futuro nem passado nem presente,
é o tempo do viajante parado numa cidade isolada.
E há quem diga que eu devia pedir ajuda
Mas se eu fosse não teria o que dizer
Ou no mínimo não seria compreendida.
Porque sinto o vento e nele ao mesmo tempo estou.
Porque sinto ao contrário do exterior
Sinto para dentro e para fora sou só miragem
Quem me ve como sou não me vê em nada
Eu nem eu própria sou, senao qualquer coisa que paira.
E de mim nunca tenho nada a dizer.»
Luna Marques
Escolhas
«Continuo a espera do dia da escolha
do dia em que haverá algo a escolher
porque no dia que olhei o céu vi o mar
e no dia que vi o mar nesse dia eu vi
um poço que era mais que eu porque me tinha...
Continuo a espera do dia da escolha
porque quando eu vi uma árvore
eu vi minhas próprias veias
e quando eu senti essas veias
eu vi que eu era como o acto de respirar
e foi só daí que me despi para um outro
E me fiz planta, que dá cura para ser feliz
Continuo a espera dum momento em que possa escolher
porque foi desse querer o que faz falta, que cresci
porque enquanto outros sorriam eu vivia para esperar sozinha
E o que todos ignoravam eu procurava para sofrer
E entender, para me fazer refém, de olhos que secretam vida
E sonhei, em vão, que escolhia
porque pensei que enquanto aprendia, acreditava
enquanto dentro de mim era minha mente quem mentia
E cansei de esperar e tentei em vão fugir
enquanto a vida me escolhia e me arrastava
para o lugar da onde até eu própria vim
E os lugares que devo estar me escolhem
e eu não escolho ninguem nem lugar nenhum
e quando o Sol bate em mim só reflete
a única borboleta que minha mente soube desfolhar
E quando a vida se dá eu não sei fazer mais nada
E quando a dor se vai não há mais nada que me faça crescer
Do que ser terra, ser dança, ser curandeira e ser amor
Sendo isso, que é só isso que dou.»
Luna Marques Guarani Kaiowá
«Continuo a espera do dia da escolha
do dia em que haverá algo a escolher
porque no dia que olhei o céu vi o mar
e no dia que vi o mar nesse dia eu vi
um poço que era mais que eu porque me tinha...
Continuo a espera do dia da escolha
porque quando eu vi uma árvore
eu vi minhas próprias veias
e quando eu senti essas veias
eu vi que eu era como o acto de respirar
e foi só daí que me despi para um outro
E me fiz planta, que dá cura para ser feliz
Continuo a espera dum momento em que possa escolher
porque foi desse querer o que faz falta, que cresci
porque enquanto outros sorriam eu vivia para esperar sozinha
E o que todos ignoravam eu procurava para sofrer
E entender, para me fazer refém, de olhos que secretam vida
E sonhei, em vão, que escolhia
porque pensei que enquanto aprendia, acreditava
enquanto dentro de mim era minha mente quem mentia
E cansei de esperar e tentei em vão fugir
enquanto a vida me escolhia e me arrastava
para o lugar da onde até eu própria vim
E os lugares que devo estar me escolhem
e eu não escolho ninguem nem lugar nenhum
e quando o Sol bate em mim só reflete
a única borboleta que minha mente soube desfolhar
E quando a vida se dá eu não sei fazer mais nada
E quando a dor se vai não há mais nada que me faça crescer
Do que ser terra, ser dança, ser curandeira e ser amor
Sendo isso, que é só isso que dou.»
Luna Marques Guarani Kaiowá
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