Naquela flor que me deste, no teu suor de cansaço, de nossa insegurança, jaz a flor da temperança.
Naquela noite estrelada, no musicar das ondas do mar, que se refletem em cada grão de areia, fizeste-me acreditar que existe força necessária rumo a uma vitória sem perdedor.
No silêncio que naquela noite contemplamos, está o espectáculo de magia aos que param para o escutar, vive a realidade, esperando por nossas almas acalmar.
No pássaro que voa livremente no céu, vive o caminho, a busca que escolhemos traçar em nós antes mesmo de nascer.
No brilho suave de cada estrela , reflexo que encontro no brilho intenso do teu olhar, vive a certeza da existência de nosso laço cósmico celestial
Olhaste-me como criança amor, no teu olhar vi tua centelha divina.
E absorvi e me dissolvi em teu ser naquele momento.
Foi assim que, nesse olhar, não vi mais tempo algum, nem mais esse mesmo momento
Vi-me mãe apenas, vi-me mãe do teu inteiro gesto, toda piedosa e bondosa em esplendoroso ser.
Senti-me mãe de nosso intenso querer e desquerer, prova viva de nossa inevitável juventude
E foi assim que eu te amei.
Amei o pai dedicado, aquele que acolhe os seus, mesmo quando apenas acolhendo todos os que são seus iguais
Amei o matématico incrédulo que sem eu querer entrou em minha vida sendo meu fazedor de ilusões e ideais.
Amei o incompreendido, o deslocado que escolhe o mundo como sua casa, aquele que não se despede jamais.
Amei o muleque da revolução, e até mesmo o que procura por confusão sem ter razão no que faz
Amei o sábio das artes do amor, assim como aquele que espera agindo por sua iluminação, crente no seu Deus interior
Amei o ingénuo escritor, como amei o platónico pintor, aquele que secretamente pinta os seus sonhos recusando ser apenas sonhador
São todos homens mais que homens
Reflexos da mais pura paixão divina que se despe em cada ser
E eu, se puder, serei também mulher mais que mulher,
serei rainha, eternamente musa involuntária de minha visão.
Foi nos teus olhos que eu contemplei o mundo,
Foi onde eu vi a razão para eu querer tanto nascer antes de ter nascido
Foi onde eu vi a razão para eu tanto querer crescer antes de ter crescido
Foi onde eu vi a cegueira em quem não quer ver o tempo passar por não se ter ainda resolvido
Nos teus olhos vi-me a lutar por mais justiça
E num momento a luta já não não era a minha, sendo mais que a minha,
a força juntou um mar, uma enchente de gente
Tal era incessante nosso fogo de paixão
Nos teus olhos vi ilusão, e a seguir vi minhas fantasias se espalharem pelo chão
E senti vergonha em constatar que me despias com apenas relances do teu olhar
Quando tudo o que eu tinha era o que eu te dava e parecia nunca chegar
Nos teus olhos vi a direcção que seguiria sozinha
Vi a direcção viva que uma Deusa pedia em mim para poder passar
Vi que tinha de ser muito minha se quizesse ser realmente tua
E enquanto isso senti que pouco a pouco, menos de mim ali estaria, temi
Um dia vi, que já não era eu que ali se encontrava, que eu já havia morrido por meus sonhos não concretizados há já algum tempo atrás
Agora era algo mais do que eu que ali se erguia, era algo além de mim que em mim lutava por respirar
E assim, a partir de mais outra visão ainda retornei a ver-me dessa vez no chão caída, apenas como a mais frágil menina que um homem desesperadamente clama a Deus por salvar.
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