Thursday, March 29, 2012

Entardecer

Num suspiro, sobrevivi

Num buraco, plantei

Num chave, vasculhei

No nada, acendi

Na vida, mudei

No céu, viajei

Em pequenas asas, sonhei
E foi assim que, em ti, compreendi
Que já se faz tarde para sonhar apenas sem sequer colorir

Que já se faz tarde para pintar apenas o que não tem mais por onde descobrir

Que já se faz tarde para chorar apenas sem encontrar pernas que possam andar

Que já se faz tarde para aprender o que não nos torna capazes de amar

Que já se faz tarde para esquecer o valor do que insistentemente sempre se fez valer

Que já se faz tarde para viver ilusões, então que possamos digerir a verdade de uma vez

É que só devagarinho e aos bocadinhos não chegaria para colhermos da terra trigo

Mas talvez com esse devagarinho possamos devagarinho partilhar carinho

É que devagarinho e sozinho talvez não chegue para construir um ninho

Mas talvez devagarinho, sem desistir, possamos construir do sábio nosso interior

Se somos mais que cinzas, meu querido, se foi essa a verdade que mais que um sábio falou.

O que nos restará mais desse segredo senão criar mais do que já se criou?

É que saber que somos humanidade não nos faz mais que míseros mortais, porém manifestar o que sonhamos, certamente, dará sentido a nossos verdadeiros ideias.

Por isso,

Brotemos mais da vida ao plantar de nossas cinzas verdadeiro amor!

Colhamos mais da vida ao retirar de nosso coração o mínimo vestígio de rancor!

Pois o que valerá o tempo, meu querido, quando percebermos que somos nós tudo o que da vida nos restou?

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