Thursday, July 26, 2012

A nudez que não se vê


Na iminência de não querer ser louca, tudo o que eu quero é fazer-me louca
E andar nua para o mundo, andar só porque quero estar deitada
Tudo o que eu quero é revelar e exprimir um interior que se faz despedido do mundo
Quero ignorar a tudo e todos e simplesmente fazer ver finalmente a integridade do todo
 
Pois sinto-me exausta de tanto calar, e cheia te tanto em mim a bulir
Sou chaleira com água a ferver, turbilhão de sentimentos numa panela de pressão que não deixa nada sair.
Agarro uma folha, aperto-a sinto suas entranhas a fluírem por mim e tudo o que eu quero é possuir para deixar-me embutir

 Tenho entranhas das que se fazem as ramificações das árvores e a das teias de aranha
Tenho rasto das que se fazem sangue escorrido e linfa seca sobre a flor desmaiada e desmanchada num chão desinfectado.
Não me vejo separada, vejo-me vigiada e despida por cada olhar que sobre mim recai ao sair de mãos abertas para a rua.
Não me vejo cópia rara do exterior, vejo-me partir da origem, vejo-me tinta de terra em tela que se quer toda auto colorir.

E agarro um momento de silêncio em que peço ao vento que conte suas histórias para mim. Arranjo coragem, peço que me conte tudo, para que me fale ao ouvido do espírito e para que eu possa esperar o resultado que recairá sobre o meu corpo enquanto eu estiver ainda a dormir.

 E não há mais razões para mim, ou raciocínios comuns que valham a pena, apenas um desprogramar ou qualquer desfazer que houver para ser feito, qualquer coisa que me faça ou desfaça em folha branca, em bolha de espuma, qualquer coisa em mim que se faça microscópio para ver o que não se mostra e não se quer revelar em simples fotografia.

 Pois por pensar que estamos vestidos para esconder nossa fragilidade e fatalidade, tenho vontade de estar nua e mostrar que frágeis e nus, mesmo vestidos e camuflados, sempre estaremos. Seremos sempre seres no limiar dessa tão translúcida loucura.


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