Palavras, acções, não são mais que senão actos.
Situações, pessoas, apenas verdades em suas manifestações.
Lugares, papeis, pensamentos mais não são que meros padrões
repetidos.
Sinto agora a vida no seu âmago e como árvore, faço parte da
sua estrutura.
Sou reflexo de algo mais complexo e minha natureza nem
sequer se sente.
Vejo que somos um só nesse rio maior e as verdadeiras
palavras do coração os lábios não as reconhecem.
Pois quando apenas as palavras vãs existem, só se despeja
palavras sobre e cujo significado vívido se desconhece.
De experiências podemos retirar o sumo da vida, vendo-nos
nela como meros expectadores, quando e apenas se quisermos.
E são essas experiencias que nos levam a circunstâncias que lamentamos
termos escolhido, mas que na realidade foi um ser de nós mais complexo que o
nosso simples nós quem afinal as havia escolhido, sabiamente.
Quando o véu da realidade através de nós, cai, vemos que
afinal o sonho nocturno era mais do que a própria realidade que se nos depara,
pois o sonho é uma previsão, que acontece primeiro, enquanto a realidade resulta
de uma visão deformada da mente que por nós nossa vida constrói de conclusões
falsas e incompletas.
Acontecimentos afinal, não são por acaso.
Sentimentos, afinal, não são tão triviais assim.
A realidade afinal, nunca esteve sob nossas rédeas.
E quem tem rédeas
afinal perde-as sempre que percebe que as tem.
O que julgamos afinal era tudo o que de errado estava em
nós, quando afinal vemos que tudo é o espírito que sustenta, vemos que quando
nada que se pensava ter afinal se tem. E a única garantia na vida passa a ser,
a garantia de que saber viver é confiar livremente, sacrificando o que se
pensava já estar garantido.
E então… Quem seremos afinal nessa confusão que em nossas
entranhas se move?
Seremos dúvidas? Seremos os aplausos? Nos aplausos da nossa
vida afinal quem nos aplaudiu? Quem por nós em nossa vida sentiu? Que verdades
a nós realmente nos foram ditas? E quanto tempo da realidade afinal vivemos? E
até quando seremos meros reflexos da vida que por nós se extrai de nós? Pois
afinal quem estava ao nosso lado quando nos vemos num mundo quase totalmente de
si mesmo adormecido?
Eu tenho andado as voltas nessa vida de reviravoltas, sendo
mero pião nessa vida que minha alma por mim escolhe, não sou dona de nada, de
situação nenhuma, e a situação me escolhe.
Se há algo de real na
vida, são as almas que como meras sombras se movem, sombras de almas que não
vem a luz, por serem meros reflexos do que na verdade são.
E na verdade a vida é assim uma espécie de jogo de espelhos,
uma espécie de festa de máscaras, e parece um jogo de sorte, uma espera pela
sorte perfeita da sombra que te sairá a seguir. E parece tudo tão vão, tudo tão
fora do real. Parece tudo tão igual, tudo tão usual. E eu pergunto a Deus, de
que vale viver quando se vem ao mundo para viver na sombra do que na verdade é.
E quanta força será necessária para fazer os outros
perceberem…
E é aí que eu vejo, que nada mais foi real em minha vida até
hoje nem eu, nem as situações, nem a minha vida, apenas tu, as sombras, as
almas que ao meu lado estavam e que por mim secretamente passavam.
Aperto a mão ao meu namorado, neste momento, não por medo
que ele parta mas pela certeza que ele deveria estar e sempre esteve aqui.
Relembro das vezes em que a apertava e ele ao meu lado
estava, sem eu sentir que ele de facto ao meu lado estava. Relembro das vezes
que ele me amava, sem eu sequer sentir o amor que ele emanava para mim. Agora
vejo que a realidade é bem mais do que o mais óbvio que aparece.
Pois agora vejo que tudo na vida acontece em simultâneo. Não
existe uma sequência, afinal. Nem mesmo um amanha e nem um ontem.
Vejo apenas que o agora em si agrega tudo. Não vejo
distinção de sonho e realidade. Vejo que a realidade e o sonho são afinal a
mesma coisa, e acontecem no mesmo lugar. Vejo que não existe um pulsar linear,
existe apenas o estar, o ser, o amar.
Nem existe o que controlar, agora vejo que tudo o que
acontece é inevitável, apenas escolhemos o que mais nos custa a escolher, a
forma de ver o que mais nos vai acontecendo, a forma de reagirmos e apenas nisso
se faz o nosso viver.
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