Sunday, March 31, 2013

Flores no caminho

Acho que quero demais
Procuro demais
E só peço a algo divino que me livre de tanto querer

Acho que minha mente está a tornar-me incapaz
Torna-me cega ao apreciar
Torna-me cega a alegria natural de viver

Pois vi que não somos feitos para querer
Como qualquer animal, só fomos feitos para ser

Quero livrar-me de todo o julgar
Procuro estar satisfeita ao estar disfeita de todos os credos da civilização
Sinto que somos mais reais ao vivermos vidas desiguais
Mesmo assim, é preciso saber escutar o bater do coração em tudo o que
a natureza dá.

É preciso parar de procurar, deixar-se levar, entregar,
saber não levar a sério, e simplesmente deixar-se em paz
Porque a mente não reconhece essa paz, e essa é a origem do meu dilema.

Minha mente aponta-me o caminho,
 mas não deixa-me sentir o cheiro das flores que encontro ao caminhar.

E por minha própria experiência, vejo qual o dilema do ser humano,
que de tanto procurar nada encontra
e que de tanto apreciar nada sabe

Se a mente ao menos soubesse encontrar seu lugar!
Se a alma ao menos soubesse que tem espaço para deixar-se viver!
Como tudo podia ser diferente...

Bem haja a simplicidade de ser mar, ser estrelas e ser luar!
Só quero voltar a sentir casa pedra com todo o meu corpo, com toda a minha atenção,
Parar de procurar defeitos em tudo, ver os detalhes e deixar de querer ser esperta
Estar ligada ao ser ao mesmo tempo igual a tudo.

Porque a beleza da água a correr já encerra a verdade de tudo
Porque cada folha de árvore é igual a mim e foi de onde eu vim
Porque nunca haverá nada na Terra desconhecida as veias que me cobrem o corpo.

Monday, March 25, 2013

Existência de árvore


Ser como uma árvore na existência
que não voou não caiu,
e enquanto os sonhos puxam para cima
o esforço puxa para baixo

A árvore permanece erguida não por si
mas pela lei do amor que liga tudo
Sendo que o amor é a eterna interacção
Sendo que a existência é a directa atenção

E a árvore permanece erguida enquanto sonha
voar como um pássaro, mas quer fazer tudo,
ser veloz, estando segura de si, parada

E ela é sensível ao vento que passa
como é sensível aos anos que passam
e no fim permanece sensível às influências externas

Ela não seria árvore sem o meio que a circunda
No entanto, o seu meio não define totalmente o que ela realmente é

E essa árvore é como um jovem que é ansioso de viver,
que não resiste a sua própria natureza, que só segue as leis naturais
e não as suas.

Mas afinal, ser jovem é ter ilusões que nos fazem seguir rumo além do que
nós somos capazes.
Juventude é não saber até onde se pode ir, é deixar-se levar bem além do que
se poderia considerar seguro.

Pois o que há de realmente seguro em viver? Talvez o Sol que nasce?
Os pássaros que cantam?
O transbordar repentino de sentimentos que  não resistem em passar?

Só penso em largar todo o orgulho ao mar,
não quero mais ser mais nem menos do que uma árvore qualquer
Porque quem pensa ser mais um dia se desilude e cai
E quem pensa ser menos, nunca ousará saber quem realmente é.


Friday, March 22, 2013

Largada

Hoje foi o dia de voar,
cortar as amarras e seguir rumo ao mar

Hoje foi o dia de soltar
Parar de lutar, seguir sem olhar para trás

Hoje foi dia de transformar,
De continuar o caminho escolhido e sem pensar, seguir

Hoje o Sol amanheceu com todos os doces tons de coragem
Hoje o Sol trouxe brisas cantoras de canções que abençoam a liberdade

E foi hoje que a minha vida voltou a ter notas musicais em cada respiração
E foi hoje que deixei num instante de escolher o cansaço e minha peregrinação

E com força puxei as velas e segui, rumo a um natural desconhecido,
numa viagem de volta recriação, seguindo um por do Sol, que foi por mim,
recolorido


Quero saltar num salto que me faça esquecer quem sou
Quero refazer tudo o que eu faço para voltar a sentir a alegria própria das coisas novas
Largar os velhos sonhos não concretizados, largar minhas velhas cinzas no mar

Peço ao mar que me permita desaguar  cegamente nele,
Vou render-me ao infinito num som uníssono e profundo capaz de calar de vez
todas as velhas cinzas das inquietações.

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Oh vida sempre apareces louca,
pois quando dedico-te fora de mim não vales nada
E só dentro de mim te deixas crescer como flor cheirosa

Oh vida, viver é conhecer-se a si mesmo
Não só dos antigos como de mim mesma,
descobri essa verdade, pois ao caminhar
Caminho sempre sozinha e no fim
o mais dificil da vida é sempre lidar comigo mesma
e com minha própria voz.

Há alguma harmonia na vida que me faz ressoar,
e faço dessa descoberta a minha busca mais funda,
e do mundo lá fora escolho manter-me escondida
procurando caminhar, passar despercebida
e ainda assim, permitir o recriar da vida que por mim puder passar

Deixar meu caule absorver a magia que houver para absorver do ar
Deixar minhas folhas se abrirem no seu espanto de confronto a luz
permitir-me lentamente secar, deixar-me molhar quando tiver de ser
e abrigar-me lentamente durante o escurecer

No teu colo tudo faz sentido
e não há mais o que fazer apenas o que guardar
Só nos teus braços cristalizo o sentir-me abençoada
Enquanto num beijo cristalizo a gratidão por viver
E só na partilha existe o sentimento do que é existir
E do amor retira-se a razão que a vida tem
E ser amor e ser flor não permite que haja tempo para criticar
para por em causa um sonho que em si se concretizou

Vou escrever, escrever até cansar
Descrever o sentimento mais fundo que houver e souber cantar
por mim o seu pranto,
Fechar-me a este mundo inconstante de si, ver o que de dentro está ainda presente
e o que precisa sair do que cá dentro está a mais

E estou cansada de quem sabe de tudo e não sabe de si porque não sabe nada
E estou cansada e ver e esquecer o que faz sentido e que realmente é preciso
E estou cansada deestar cansada e gastar energia onde não precisava,
num lamento que não e viver

Sonho ser como flor, ser como mar, permanecer
no sonho humano de morrer para si mesmo
Não deixar o sonho matar-se a si mesmo por não saber
calar a sua boca.
Por não deixar o silencio da ausência penetrar nas células vivas
da esperança
E parecer louca faz-me sentir tão profundamente certa que não me interessa a razão.