Saturday, September 20, 2014

Raphaël - Caravane

Barbara Bonney: "Aurore" by Gabriel Fauré

Barbara Bonney: "Le Secret" by Gabriel Fauré

Silencio-Madredeus

terras soltas

Terra de quem vai e não volta
Terra de quem vem e nunca mais volta
Sentir-se a miragem de paisagem
Num caminho sempre de passagem

Terra desconhecida para alguém
Vazio tempestuoso para mim mesma
Pranto desconsolado num breu familiar

Plantas de corpos de vidas vivas em constelações
Os dedos de teclas soltas num mar de canções
E a escrita é o sangue dum átomo de chão
Enquanto isso tudo é tão calmo, mesmo enquanto se ri e se chora

São místicas as fontes onde encontro o teu ser no meu
Escrito despido sujo e puro em criança, nisto  tu
Esta coisa antiga, infantil, dona de si de tão perdida na perdição de mim
De nós, nos fazemos já nascidos, antigos do que antes já havia sido

Tão pequenos de tanto que existe no peito
Soltamos o que há, o passado e o futuro num só
Iniciados naquilo que já sabiamos ser passageiro
Amarmo-nos num baloiço de emoções, desfeitas em trocadilhos

Sonhados dos sonhos contados em infantis cançoes
Cada um na sua versão classificada de antigo e novo portugues
Ver que da vida o que há é um troco do que foi pensado
E cairmos para levantarmos o chão e sermos novamente multidão

Mas o passado não cura, e o futuro cai da janela
Leões, tigres e cães são donos dos ossos dos nossos nobres ofícios
E as almas são maiores, são licores, são flores, são crianças que sonham maiores mundos

Ser tua nesta terra, que à ela me faço dedicar
Crescendo de aviões de terras que vão e que ficam,
dor do que passa e se esquece sem parar
Ser de quem nunca soube de onde vem senão por uma canção
Ser que se faz tocar