Friday, January 13, 2012

Renascido por arte

Palavrear é criar
O criar momentos, sons, memorias, sentimentos, sensações, emoções
É no criar que respiramos
E em cada momento de silencio nos replicamos

É nesses momentos de silencio que entrego meu ser a criação
Pondo-me nua diante da mais pura libertação
Uma tal necessidade de morte que a vida me presenteia
Alívio das dores, como doce e kármica redenção
Háverá tempo para tanto que me falta criar?
Para tanto que quero dar? Para redoar mais desse ser?

Amo-te, mas recuso-me, não quero mais sonhar-te outra vez
Quero contentar-me com o bom que já tenho e com a magia do que existe de natural.
Liberta-me deixa me ser eu só mais dessa vez
Vai te oh pensamento ingrato de tortura sentimental, isola-te e transmuta-te
E não esperes nenhum sinal de uma vida que morreu a nascença e que não volta mais

Como um sonho de romance adolescente que a magoa destruiu, farei dessa mágoa mais que dor
Escrever-te-ei ate refazer-te em minha vida, mesmo que mil esboços não bastem
Te darei mais vida em cada esboço com a minha arte
E o mar, saberá dar a voz que falta a minha humilde criação
E ouvirei, se precisar, os céus para saber dar-te os retoques finais
Se arte é vida então serás vida ao estares assim recriado ao meu lado
Desta vez sem qualquer rompimento e sem um amargo fim

Por mais que o tempo passe desta vez estarás aqui comigo
E um dia, hás-de ser arte eterna escrita, dita e a percorrer a vida em mim
Como presente e graça que o universo dá, a quem sofre de amor como eu sofri

Lágrimas

Suja não quero estar, nem suja de pensar
Nem suja de sentir,
Nem suja do medo de corromper
Nem suja de cheiros e aromas estranhos
Nem suja de rancor
Nem suja de desejos perdidos em fugas e devaneios
E nem suja de sentimentos dum passado que não volta mais

Rezo, peço, tento, lutamos para preservar alguma pureza de dentro
E não deixarmos vontades exteriores corromperem o nosso ser
Nem mesmo a dúvida pode permitir que o medo de voltar a falhar me invada,
nem o medo de perder o que nunca de facto esteve lá

Transpiramos arte, vida, amor
Por vezes inspiramos dor e docemente sentimos as lágrimas que nos vão escorrendo pelo rosto
Vemos lá fora miséria, tragédia, desespero e desilusões destiladas em doentio prazer
Jamais se esquece, nada me fará esquecer o que importa, a partilha, o conhecimento, a persistência no que se faz por amor.

Ainda assim sinto carinho na tua essência, e uma grande falta na tua ausência.
Vejo brilho em nossos olhos tão ansiosos por ver maravilhas, somos vívidas almas alimentadas por jovem esperança, como flores espelhadas ao céu.
Vivemos do futuro, do sonho com um futuro bom. Permanece-nos essa centelha que queima ao criar, que jaz em mistério existencial.

Hoje sei, vi no teu olhar, no teu lamentar que não nascemos para descobrir o amor, nascemos sim para partilhar o amor que possuímos com o mundo.
Como crianças ao questionar tudo, agora percebemos que a pureza nos levou a essa nossa profunda relação com tudo.

Anseio agora partir a caminho de realizar um melhor futuro, que seja em homenagem a criança que em nós pede passagem ou pelas que já estão a caminho de chegar.

Ansiosos, sabemos que o mundo lembrará um dia do último dia que sonhou, do dia que nasceu em amor
E saberá, finalmente, que sendo apenas um com tudo, pode limpar de uma vez por todas as lágrimas humanas e não humanas de dor.