Tuesday, July 30, 2013

Ensinar a amar

Todo o mundo diz que ama, e ama!
Mas ninguém e nada pode ensinar a amar!
E se alguma escola ou instituição disser que pode ensinar eu pergunto,
Como se ensina uma peixe a nadar dizendo que ele não sabe o suficiente,
como se mostra a um animal que está preso numa jaula, o que é  a liberdade, o que é viver na selva e como se descreve a sensação de um luar fora de quatro paredes, quando de lá nunca se saiu.

Todo o mundo diz que quer amar mas não se quer entregar porque não quer sentir dor!
E eu pergunto se alguma vez se conquistou alguma coisa sem suor e a ela se deu o devido valor.
E eu pergunto como se pode amar completamente, com toda a segurança de um bebé num berço fechado, para ele não se magoar…

E eu pergunto se essa entrega a essa dor, essa ausência esse sentimento de insegurança, não fará parte do próprio acto de amar, do processo em si, porque talvez um dia, depois de tanta entrega, depois de tanta dor, ela se deixe de ser dor, ela passe ao estágio seguinte e todo o pranto passe…

Porque no seu limite a dor não se sente, no seu limite o sofrer se rende, diz que não é de nada nem de ninguém, porque se desfaz em alma de tudo e de todos…
No fim, não há queixas, nem medos, nem espectativas, nem falhas, no fim tudo é tão fundo que se larga e deixa ser o simples amor que sempre esteve lá e ninguém via.


Estrutura óssea

Hoje sei que agarro sentimentos como se fizessem parte da minha estrutura óssea
Humores são ossos do meu esqueleto e faço de sensações a musculatura que encobre-me o corpo
Sendo assim, a pleura do coração é a pele que me encobre.
E toda a sensação cobre me mais que o corpo, é rasto que deixo em tudo por onde passo de segundo a segundo num tic tac profundo que se desfaz após serem como ondas do mar, numa ondulação que dança.

Hoje disseram-me que sou de tudo e de todos,
que dos outros construo paisagens que se tornam parte de mim e por serem minhas são de mim. Quando tenho que as soltar, custa-me porque largo pedaços de mim.

Hoje descobri que quando me calo é porque torno cada palavra dádiva de se entregar
Tão dádiva que minha alegria sacrifico em prol de sentir algo maior, em prol de preferir ser essa entrega ao infinito do que cobre tudo, e por isso choro de solidão

Mas foi de ti que tudo soube,
Porque foi hoje que me telefonaste, e depois de meses de intensa presença ausente nos reencontramos, finalmente prontos para nos ouvirmos, finalmente prontos para não fingirmos.
Porque antes tu fingias que te conhecias, e que eras teu segurança pessoal e eu fingia o mesmo de mim.
Hoje, depois das lutas de ventos e vendavais que travamos, finalmente estávamos cansados, suados e decepcionados connosco o suficiente, para sermos capazes de nos ouvir um ao outro.

E de caminhos opostos de onde vimos, hoje descobri por tuas palavras como agarro brisas de sentimentos como se fossem chão e como tu as soltas na esperança de te encontrares em algum lugar longe de tudo.


Friday, July 26, 2013

tulipas


Um ser que nasceu dum confuso seio familiar, confuso tenderá a ser


Este ser meu ser não quer mais conceber

Quer um leque mais infinito de possibilidades

Quer um sonhar indo além de sonhos velhos não vividos

puros e manchados de frustrações passadas



Um ser que nasceu do breu não reconhece facilmente a luz

Mas existe mesmo do escuro uma pequena luz que mal se vê

Ela que de si se cria, que de si nasce e renasce

Sempre procurando o inalcançável do que se possa alcançar



E o universo se cria, o criador procura sempre mais de si se dar, que descanso haverá?

Que riqueza trará em tudo de si entregar…

Sem saber do retorno da dádiva, tudo que sair de si deverá ser autodomínio,

viver numa entrega profunda em vez de numa autoritária rigidez, melhor viver haverá?



Quem de fora possa ver será que poderá entender, será que poderá ver?

Será que se pode ver de fora o que nos come por dentro?

O que nos digere e nos deita fora, que pensamentos traem e

ficam quais dele irão embora, quais deles morrem, quais deles destroem



Negar ou aceitar a tradição, negar ou aceitar a sua origem, negar ou aceitar a ilusão?

Amar o essencial do que é tradicional, por amar o mistério da origem

Deixar a magia permanecer colorindo folhas soltas que descaem sua restante beleza,

E as flores primaveris, continuarem a semear os sonhos nos apaixonados,



Tendo que engolir letras confusas de cartazes representantes duma verdade semi-dita, semi-estudada, semi-maldita, semi-verdadeira, semi-mentira, semi-antiga, semi-recente, semi-esquecida, semi-ausente, semi-realista? Muito conveniente, eu prefiro tulipas.




Monday, July 22, 2013

Fumo de lareira


Sou fumo de lareira.

A sociedade está doente.
E eu, não sei se estou.
E o não saber se estou faz-me ter alguma sanidade.
A tristeza vem a passos lentos e profundos, mas com ela eu não vou.
Não me rendo a auto-compaixão, toda a gente tem o seus momentos deprimidos.
Rendo-me a Arte, esta sim sabe ser extrema e flexível, sabe ir mas além e de uma vez só voltar para trás. E só o artista é, este sim, realmente, é um ser vulnerável, eu não.

Se serei louca, quem não será?
Se o mundo para mim, não se pode fazer num jogo de xadrez…
Se o mundo para mim não tem encaixe perfeito…                                                
Depois de longas discussões, vou fazer as pazes comigo e aceitar a louca que sou.
Porque quem viu sua origem nascer da confusão, não conhece mais do que esse ser confuso.
 Nunca pode voltar para atrás e da ingenuidade retirar o viver feliz na ilusão.

Sou nascida do fumo de lareira.
E cedo a vida me tornou gasta demais, para alguma vez parecer realmente sã.
A vida não me quis ovelha de nenhum clã e dos clãs da cidade retiro o seu amargo sorriso, que no meu caso, escolhe estar solitário e escondido.

E por isso, é melhor aceitar meu simples figurino natural de personagem desencaixado.
E minha altivez, perante apenas, fantasmas tristes do passado.
De onde brota, por vezes, alguma paixão, de feridas mal saradas do que eu já soube e já não sei.

E eu nunca sei para onde vou,
E nunca sei se devo ir ou ficar,
Porque o meu tempo de acreditar já passou.
Porque nenhum lugar, nunca completa a profundidade do meu coração.
Coração de quem não tem fundo, nem forma, nem direcção.

Vou sendo é essa contemplação dum choro bruscamente engolido…



18/07/13

Autoritarismo


O autoritarismo é uma forma de maltratar psicologicamente o outro livremente.
Destrói a autoconfiança do outro, destrói sonhos, torna-nos ovelhas de rebanho.
Porque quem é autêntico não precisa de capa para se encobrir, nem precisa de altar para estar em posição superior a quem está a sua frente.

Sentir-se superior é escolher estar cego de si próprio e do outro, viver de títulos e de bens, aceitar autoridade é negar tomar acção sobre a sua própria vida. É deixar-se a mercê do outro.

Tenho amigos que são como rebeldes, não aceitam qualquer tipo de autoridade externa por este mesmo motivo. Vejo este instinto como um sentido de rebelião pessoal mas penso que no fim não trás qualquer vantagem.
Opor-se a autoridade externa pode ser uma forma de reforçar essa própria autoridade, bem como, reforçar um sentimento de auto compaixão que não trás qualquer benefício.

Melhor seria, ignorar esse tipo de pessoas, e sem deixar afectar-se por isso cumprir o papel que é necessário ser cumprido para o melhor dos nossos projectos pessoais.

Apesar de tudo isso, as piores autoridades são as internas, seja autoridade religiosa, psicológica, emocional. Pomos nossa vida à disposição de uma série de fantasmas alegóricos que nos aparecem com os anos de vida.
Qual será então a melhor posição em relação a estes? Estes penso eu, não se devem ignorar. Melhor seria, então, deixá-los morrer de fome.
Não encontrei uma solução definitiva para esta questão.
A nível intelectual, o que me tem ajudado é a eterna filosofia de um constante por em causa, mas isto também trás uma certa inquietação, e um constante reconstruir.

A nível emocional, bem, este é o que trás a minha conversa com a poesia e traz-me noites mal dormidas sendo o motivo aparente, nenhum.

Tuesday, July 16, 2013

O ser imaginado

Não há poeta que se exprima como esta mágoa que me existe no peito

Nem há filósofo que se faça de minha mente a querer esquecer
Porque estou presa, presa em minha própria gaiola que criei
Por minha espera de ti.

Porque não há nada que me liberte do ideal,
Do ideal humano de criar um ideal de beleza
Nem da tolice de pensar que alguém tem que ser como a imaginamos.

Foi numa tarde fatal que tua forma colori numa página da minha vida.
Foi quando nos entreolhamos por motivos misteriosos mas nem por isso iguais.

E agora, não há razão fatal o suficiente para fazer meu peito deixar-se calar
Mesmo sabendo que na verdade quem tu és nada tem haver
com tudo o que sonhei de ti ao longo de anos.

Agora, faz mais sentido toda a poesia imaginada,
faz mais sentido todo o canto melancólico com palavras tristemente proferidas.
Porque tu só fazes sentido no meu profundo ideal de ser docemente imaginado!

E tudo o que farei, será pela imagem romanesca que criei de ti,
Oh doce ser inexistente.

E tu mostras-me e voltas-me a mostrar,
que a imagem que pintei em meu corpo tua nunca e jamais existiu
E eu volto, e volto a acreditar. Como tola.
Como tola mulher que sou e que não quer ver
Sendo tão mulher e tão cheia de peito a doer por dor.





Sunday, July 07, 2013

Música antiga

Musica antiga, contigo mergulhei nos mares do passado,

só tu com tua bruma trazes essa capacidade de revelar um mundo mais interessante porque não tem tempo
e um mundo mais livre porque não tem  espaço  e se deixa perder a minha volta.
E ao ouvir aquela suave musica orquestral revelaste em mim o que do passado vive e respira
e a parte de mim que existe e vive nos velhos sonhos de infancia por acabar.

Como minha substancia, és o que de mim é realmente real, fora de toda essa vida que se auto construiu,
sem deixar que eu sequer me apercebesse quem era em meio a tanta confusão.
Porque tu és como um total desconstrução que concebe unicamente essencia original.
E contigo tenho todos os sonhos, todas as imagens coloridas que o som pode conceber
Em minha mente apresentam-se como fadas que surgem para recolorirem o meu mundo.

Tornas tudo possível, trazes minha esperança perdida,
lembras-me brincadeiras de crianças quase esquecidas quando bebo desses doces nectares de notas largadas ao vento.
E tudo passa a ser normal para mim, fazes mais facil aturar toda e qualquer brusca emoção.
Fazes revelar todo e qualquer parte dum íntimo escondido em desencorporado turbilhão.

E a ti entrego assim minha vida, passando a ter leveza de quem entrega um fardo pesado e
e passando a ter a esperança de quem se rende cegamente a uma paixão.