Sunday, June 14, 2020

Noite



Eras o dia e a noite da minha vida,
trazias o dia a cada momento ao meu lado, quando me acolhias sendo eu teu passaro, quando me aparavas do relento, a vida tinha cor, tinha fantasia e musica,
apenas porque eu estava abrigada no teu calor,
mas as noites seguem sempre os dias, e a noite eras teu proprio corvo, eras toda a tua destruicao fumavas e nao paravas ate a noite deixar de ser e por ai ia ate o gosto dos teus labios acabarem nas ruas da noite, ate os teus labios e dedos ficarem frios nao paravas de fumar, como num furacao todas as noites seguidas dos nossos bons dias tu ias perdendo a tua propria identidade, 
com o passar dos dias, pensavas ser eu a responsavel pelos teus devaneios noturnos, porque ao esqueceres quem eras, esquecias quem eu era tambem.
E como? Como podia eu ainda a mim mesma culpar? 
Eu engolia o nosso amor, como quem esta sedenta de pao, eu amava cada parte tua mesmo as partes que nao gostava, como a solidao que me entregavas diariamente e me sufocava, a nossa relacao sempre foi a tres,
eras tu eu e os teus vicios da noite.

Com o passar dos dias a noite ia ganhando vida, com a minha aproximacao a ti, quanto mais eu amava-te mais tu me afastavas pelo amor a noite que te queria consumir, quanto mais eu amava-te mais te inspirava a dor de perder-te de ti proprio nao por mim, mas pelos espiritos da noite.
E eu dia a dia e todas as noites rezava, para que partisse o amor do meu peito, para que nao fosse maior do que eu a minha preocupacao para contigo, mas tu nao paravas, nao conseguias parar-te a ti proprio nem dar-me resposta sequer.

Porque a noite queria tambem ser tua compania, e quem era eu afinal, comparado com a forca de um luar? Quem era eu para querer ser tua? Quando os espiritos da noite, queriam possuir o teu corpo mesmo gelado? Mesmo depois do calor do dia estar dissipado, os espiritos nao ficavam satisfeitos, se desapareciam por umas horas, dizias me... desculpa.. mas eles voltavam sempre para nos assombrar... e o meu peito vivia assim dia a dia, sempre vazio, sempre a espera inutilmente do teu regresso limpo, do regresso de ti em mim completo.