Há dias que não
sei se vivo,
Quando
trabalho não lembro me de quem sou, routineiramente sigo as pisadas estabelecidas
por mim
Saiu a rua,
vejo todos os perdidos, tanto ou mais quanto eu, luto para não pensar e deixar
estar
Bebo café
para não sentir, tenho sempre pressa, tenho sempre o que fazer para não lembrar
me de ti
Porque se
lembro de ti, percebo que não estou a viver, percebo o que e que deveria ser
E sinto a
realidade, a realidade de que contigo naquela noite que saímos,
Dançámos e
vivemos tao intensamente, como a própria realidade em si,
Naquele dia
finalmente percebi o que era existir, vi que afinal nunca estive completa como quando estava ao
teu lado.
Tu
respiravas o que eu sonhava, dançavas como o que me era mais sagrado,
reconhecias- me olhavas-me como se já me conhecesses deste sempre, e ao mesmo
tempo timidamente riamos um do outro, como crianças que não conhecem ainda este
mundo. Não sei porque, mas completavas sempre o que eu pensava, e eu completava
o que sentias, como se soubesses o que eu queria dizer.
E
partilhávamos os mesmos medos, os mesmos receios e quase o mesmo corpo.
Quando nos abraçamos
eu já não sabia o que eu seria, se eu seria eu mesma ou se eu fazia parte de
ti,
Sentia me
uma arvore, abraçada entre folhas e ao sabor do vento. O teu movimento era tao
natural em mim, que eu já sabia como tudo iria ser algures dentro do meu peito.
E agora
depois desse dia, quando ficas calado, sei que não vale a pena resistir, quero
deixar-te partir, porque tens sonhos também, porque amo-te porque es livre
mesmo vivendo dentro de mim,
A certeza de que irei encontrar-te novamente dá-me
vida,
Sei que
sempre irei encontrar-te novamente, não quando eu quiser, mas quando a natureza
florir.