E durante o discurso da pessoa que me questionava percebi, como de costume, que por mais respostas que eu desse, e por mais convincentes que elas fossem aquela pessoa não levaria a sério nenhuma das minhas respostas.
Mas não é um discurso prol vegetarianismo que eu pretendo agora. Sinceramente nem sequer sinto-me minimamente interessada nisso.
Hoje foi a negação que me levou a escrever.
Foi novamente perceber a negação nos olhos e na mente de pessoas que questionam minhas opções éticas pessoais.
Foi perceber que toda aquela negação não foi uma negação àquilo que eu dizia, mas uma negação a confiança em nossa própria liberdade enquanto indivíduos. Negação a força e existência da nossa liberdade diária de escolher o que de facto é melhor para nós.
Com tristeza, percebo a extrema gravidade dessa contestação que agora surge em minha mente.
E com tristeza vejo o quão comum é entre tantas pessoas.
Não me considero superior a ninguém e muito menos considero as minhas opções alimentares superiores. Mas prezo acima de tudo a liberdade de pensar, agir, sonhar e mais que tudo de questionar de forma fundamentada nossa realidade. São as pessoas que mais se questionam que eu admiro.
Não me considero superior a ninguém e muito menos considero as minhas opções alimentares superiores. Mas prezo acima de tudo a liberdade de pensar, agir, sonhar e mais que tudo de questionar de forma fundamentada nossa realidade. São as pessoas que mais se questionam que eu admiro.
Durante o discurso que escutei tudo o que ouvia era uma total descrença no valor de nossas opções individuais. As nossas opções individuais podem parecer mínimas face ao encarar de tão infinito universo, mas face as nossas vidas são essenciais. O que nos define enquanto indivíduos? Será apenas a roupa que vestimos? O local onde trabalhamos? O carro que temos? Não será também as opções que tomamos? Ou mais do que isso, o que escolhemos fazer com a liberdade que nos resta após tomarmos conta de todas essas coisas? Isso não conta?
Porquê estão as pessoas actualmente tão indiferentes relativamente à sua liberdade?
Onde está a nossa auto-estima enquanto seres vivos?
A nossa consciência é provavelmente o que mais nos distingue relativamente aos outros animais, além do polegar opositor, coluna vertical, entre outras coisas. Por isso penso que o uso que fazemos da nossa consciência não pode de modo algum ser menosprezado, afinal de contas nos define antes de tudo como seres humanos.
Além disso, essa falta de respeito face a nossa liberdade, irá desaguar numa falta de aplicação do nosso senso crítico e nos põe a mercê das mais variadas técnicas de propaganda e estratégias de consumo, bem como outras estratégias políticas e económicas. Ora, todos temos de deixar de acreditar no pai natal não é verdade? Mas então porquê continuar a escrever cartas ao pai natal?
Não. Eu não escrevi este texto para defender minhas convicções. Escrevi este texto para mais que tudo por minha indignação por ver uma falta de convicções fundamentadas em outras pessoas e acções tomadas relativamente a essas mesmas convicções.
Quando não temos uma postura referente a vida somos facilmente manipulados por quem quer que seja, não somos mais donos de nossas escolhas, da qual a nossa vida ganha estrutura. E nesses casos, não há instituto académico ou hospital que nos valha já que não se trata apenas do conteúdo histórico/social/científico que sabemos mas também da simples capacidade de ponderar pontos de vista, criar soluções e novas ideias para questões diárias, enfim, raciocinar no mundo prático no qual integramos nossas vidas.
Ao nos percebermos que tal falha existe, é importante também referir a importância da tolerância que devemos ter com os outros.
Por que não podemos negar, que de facto somos seres do qual a sociabilidade é fundamental. E que é fundamental partilharmos nossas conclusões de vida com os outros. Por mais controverso que possa parecer, é fácil observar também entre muitas pessoas a escassez de conversas críticas, tolerantes e fundamentadas em relação a algum assunto contemporâneo, e espaços públicos dedicados apenas a esse efeito.
Frequentemente, quando se fala em questões controversas as pessoas fogem do assunto dizendo que não tem tempo para isso ou negam a ideia sem sequer pensarem sobre o assunto. Mas será que no meio da tão grande agitação citadina em que vivemos terão as pessoas perdido o tempo de serem livres?
Frequentemente, quando se fala em questões controversas as pessoas fogem do assunto dizendo que não tem tempo para isso ou negam a ideia sem sequer pensarem sobre o assunto. Mas será que no meio da tão grande agitação citadina em que vivemos terão as pessoas perdido o tempo de serem livres?