Monday, March 16, 2015

Açafrão

Na beleza desta noite sem ti, os passarinhos cantam pela madrugada, sussurram nomes, partidas, chegadas,
Como se cantassem a beleza dos teus braços, como se viver fosse estar entrelaçada
no quentinho de ti

O frio do teu afastamento, é o rio no qual procuro o teu nome, o lugar em que confirmo minhas pegadas, em que observo, paro e volto a ligar-me de mim onde procuro largar-te, no fundo de mim, neste mar, quero deixar-te como me encontraste, permanecer-me minha, protegida

Voltar a estar nua, para nua voltar a perder-me e perder-te nestas brumas angelicais, amante de guitarras, neste corpo meu ausente de mim, não quero mais sentir-te a tocar o meu próprio instrumento que é o meu corpo,

 Não, não quero o que por amar-te tanto deveria querer, porque no fundo de mim, sou um poço profundo, sou águas de solidão, abismo de fascinações, instrumento mudo, só de todas as dores,
toca-me assim, como ser da pele de ti próprio e eu experiencio, esse mesmo fogo vazio que consome o meu corpo, eu construo no vento todo esse poço dos outros, onde observo-me eu mesma triste de mim

tão intenso foi o passado carrasco que tu vieste como abençoado do mundo nas cores dum caminho de boas marés e eu aparecendo das mais miserável de todas, ao desmanchar-me em teus braços, como quem se desfaz do mundo, como quem nada tem a perder, como se desmanchasse me em rosa, só por causa do teu sim.

Se me deixares, és já de ti homem universal, todos os países são tuas estrelas, mas de mim nada sei. Continuarei a ser amante das estrelas, a sentir-me em folhas de inverno, a viver despedaçada por dentro, neste turbilhão sem fim, despeço-me de ti nesta noite, ao procurar-me nesses restos humanos abrigados na rua.

Não é apenas da vida, a pura e simples vida aparece-me num turbilhão de mim, o rodopiar das ondas do mar, o tráfico dos carros que não para, tudo eu sinto dentro de mim, neste encantamento que é amar-te tudo seria na pura beleza um futuro que ditaria  um dia o meu fim. O teu adeus do teu afastamento, a tortura dos beijos, dos abraços, a existência de se ter existido.

E na presença desta noite, amar-te assim num segredo que aparece tao de repente, é como comer chocolate as escondidas, é procurar o encantamento dos índios, as cores das florestas nos temperos orientais, nesta nuance de nossas cores, dos nossos odores, vejo os odores dos lugares que havemos de ir, na tua origem do outro lado do mundo, e no açafrão que vai passando a ser a cor da nossa pele.

Misturas, no calor do amor que coze alguma fruta nova para dar sabor ao mundo, e o meu gosto por ti me substitui na beleza de todos estes dias, retornas e voltas a dar cor a minha face só porque tu disseste sim,

E as letras estão neste estado de deslumbramento, vão se revelando uma a uma, no mesmo que os passarinhos cantam nesta madrugada primaveril, que tu trazes tudo e és de onde não se tem nada, que por trazeres também o cheiro de todos,  hás de ser também um homem bom.




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