A infancia acabou. A vida acabava.
Tu te disfazias do que eu sentia como se eu fosse uma roupa que nao te servisse mais.
Eu calava e chorava, ao ver-te partir. Tu nao me deixavas para tras, respondias as minhas perguntas mas o tempo que me fazias esperar antes de responders fazia-me prever o que aconteceria depois.
Eu sabia que nunca te iria esquecer, eu sabia que ja terias esquecido quem eu era.
Mas ainda assim eu te amava, eu bebia para te esquecer eu fumava para esquecer teu corpo.
Recusei-te todas as vezes que pude afastar o teu corpo do meu, escolhi outro para tentar fazer-te ver quem eu era, mas eu sabia que nao havia volta a dar, que provavelmente nao voltarias.
Que provavelmente nao me amavas como eu te amava, e por isso eu em vao tentava fingir ignorar-te
E a vida em mim se recolhia, pouco a pouco o medo se instalava e eu tinha medo, medo que o meu peito endurecesse como a pedra de uma calcada.
E o medo me fazia agir, eu procurava onde me segurar, alguem onde me pudesse agarrar, um amigo, um apoio. Como um mendigo, eu apenas procurava um pouco de atencao, as vezes eu conseguia, as vezes nao.
Por que apenas tu eras o meu verdadeiro apoio, por que apenas tu realmente me ouvias e me compreendias, mas por que nao vias o nosso amor?
Por que nao acreditavas? Porque nao voltavas?
Eu abandonei-te por impaciencia, nao aquentei a tua impermanencia, os dias que esperava que chegasses, os dias que lembrava de como o teu toque tocava a minha alma e dava sentido a minha existencia,
Eu queria que me deixasses, eu fiz o que pude para que me deixasses, porque eu nunca te abandonaria, e sabia que nunca te iria esquecer mesmo que nao me amasses. Quando eu percebi que nao me amavas fiz questao que me odiasses.
E tu dizias que nao me amavas, e eu compreendia, que nao estavas pronto para me amar.
Por mais que me contasses que nao me amavas eu nao acreditaria, nao iria acreditar que o sol deixasse de brilhar, que a morte estivesse a chegar, nao podia acreditar que a minha juventude tivesse acabado.
E enquando eu te guardava num lugar sagrado em minha memoria, eu percebia, o que eu nao tinha. A minha vida tinha acabado, e de facto eu sabia que nunca mais seria capaz de acreditar em ninguem.
Eu fazia questao que nao voltarias, porque nunca conseguiria sobreviver na presenca da tua ausencia de mim, antes preferia que me odiasses, preferia te ignorar para sobreviver das migalhas da minha raiva de ti.
Friday, January 12, 2018
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