Eu observava e amava cada movimento do seu traco leve. O dia estava cinzento, mas ele pintava tudo o que lhe ia na alma e ia colorindo os muros do seu mundo interior, enquanto isso iamos falando e o meu peito timidamente procurava explorar a sua dor.
E pela neve caminhavamos juntos procurando no escuro uma saida lado a lado, juntos afogavamo-nos nos silencios do tempo e deixavamos percorrerem-nos as duvidas que tinhamos um do outro.
Ele nao era livre de si mesmo nem para estar comigo, tinha os seus fardos para carregar, a sua familia longe num pais distante, e eu sentia me injusta em cobrar lhe pelo meu amor fosse o que fosse.
O rapaz que pintava, continuava pintando a sua historia no meu coracao, e a pouco e pouco eu me afeicoava a ele como se ele fosse meu filho ou o meu melhor amigo, quando eu dizia uma piada a mais subitamente eu cedia-me demais e ele acabava parecendo como o meu pai. Quando algo de errado acontecia ele sempre estava a meu lado. Me assustava a sua forma de pintar a minha alma, me assustava a forma dele sem falar nada, com um olhar conseguir sugerir a cor que tinha tingido o meu coracao. Cada vez que o sentia, a minha natureza mais pura se refletia, seria isso amor? Seria apenas carinho ou compaixao?
E eu continuava a ama-lo mesmo em todas as vezes em que ele era imaturo e nao sabia reagir, mesmo apesar de todas as vezes que ele deixava-se ir pelas emocoes como crianca, eu amava todas as vezes em que havia silencio entre nos, em vez de abracos e sorrisos forcados, amava-o por ele ser tao transparente e sincero quase parecendo imaturo. Amava-o porque nunca haveria uma palavra de falsidade em sua boca, nunca sequer haveria palavra alguma. Todo ele era expressao pura e em bruto, poderia haver um desenho destemido pintado por ele, uma expressao ou um grito desolado em forma de protesto mas nunca uma unica pura palavra sairia de sua boca que me pudesse enganar ou ofender. E isso me comovia, isso me fazia ama-lo e respeita-lo um pouco mais. Juntos eramos como terra e instinto, eramos de carne e osso, feitos diferentes masda mesma essencia e estavamos confortaveis apoiados um no outro.
Na verdade era incrivel como ele nunca desenvolvera esse mecanismo sinico de defesa chamado mentir com palavras, como eu. E era por essa razao, que eu sabia que nele podia confiar meus segredos mais do que eu confiava em mim propria.
Enquanto ele era sincero em suas palavras eu era sincera em tudo o que eu podia ou nao ter, entao ele depositava em mim tudo o que ele queria deixar em local seguro para nao perder.
Eu tinha extrema confianca no seu ponto de vista, porque tudo nele era sincero, directo, verdadeiro e livre, ele sempre sabia o que era certo e errado apenas por instinto. Tudo nele era livre, e se algum dia as minhas palavras e ideias me tornassem arrogante ele me diria na minha cara, e me confrontaria e me envergonharia com um grito de protesto, sem palavras que se juntassem a minha confusao.
E se algum dia a liberdade dele o levasse ao fracasso e ninguem entendesse a sua expressao, eu poderia usar da forca que restasse em mim para o explicar que ele estava certo e ele seguraria a minha mao para aguentar-se do frio e erguer-se depois de um dia de trabalho excessivo. Nos dias frios ele procurarava abrigo em meu peito como se o meu peito fosse um porto seguro onde ele poderia despejar todas as suas impressoes.
E foi assim, que eu me tornei essa rapariga que escrevia e ia amando em segredo esse rapaz que pintava sozinho protegido do frio no seu quarto fechado.
Thursday, March 01, 2018
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