Friday, December 27, 2013

Intimidade

Intimidade é a capacidade de relacionarmo-nos com a alma de todas as coisas, com a alma do mundo. Normalmente, pensamos nas nossas necessidades pessoais como apenas nossas e de mais ninguém. Necessidades de afecto, de atenção, de partilha, de conforto, etc.
Na verdade, o facto das nossas necessidades nos parecerem únicas na sua complexidade, não as torna transversais a nós mesmos. Se fossemos capazes de nos abrir, à grandeza do universo. E isto é algo que nos pode acontecer facilmente num sonho, numa visão ou numa intuição. Mas se fossemos capazes de nos manter nessa relação com o universo, nessa verdadeira relação de intimidade em pura proximidade, estaríamos talvez completos ou felizes, ou simplesmente estaríamos sem precisar pensar.

Talvez isto seja o verdadeiro significado de religião (re-ligar), mas para mim, não há religião que não seja uma extensão da nossa própria experiência enquanto seres humanos. Essa nossa capacidade de expansão, de nos estendermos perante séculos e encontrarmos lá um sentimento em comum (através de lendas, por exemplo), essa capacidade de percorrermos distâncias sem fim longe de nós mesmos ou dentro de nós mesmos, e ainda assim estarmos conectados em intimidade, reconhecermos algo de nós nisso tudo, isto pode ser mais do que uma religião qualquer. É algo único e comum a cada um de nós e em todos nós que está totalmente vivo em sua única complexidade.

Não podemos deixar que esta intimidade nos seja julgada, pondo nela um rótulo, nem podemos acreditar num redentor externo às nossas horas menos boas. A nossa intimidade com as coisas simples do dia a dia, com as pessoas que amamos, são a porta aberta para a luz que reflectimos da própria vida, e é algo vivo, disponível a todos nós, todos os dias. Todos os dias temos um potencial infinito, na infinitez da nossa própria natureza em relação com tudo o resto. O nosso poder reside apenas em deixar as barreiras que criamos com a nossa própria mente.


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