Thursday, September 26, 2013

doce

Mais um dia em que o trabalho estrupou-me a alma
e vi todo o doce que eu tinha, a jorrar

Mais um dia em que minha alma atirou-me contra o céu violentamente
Condenando-me ao pranto que houvesse para toda a terra molhar

Mais um dia que é dia de respirar sendo vento
dia de divagar na solidão
dia de cavar no fundo do poço até ao fim do mundo
até de lá se extrair o nada

Neste dia que é dia de lágrimas
secas, caladas, coladas a cara
Dia dos bonecos de sorriso trivial
Sufoca-se um pensamento que diz
«Tudo o que eu quero é poder mostrar-me feia,
em dor, em angústia, só na verdade do que agora sou»

Lástima, queixume, nada disso vale a pena
Só o destruir dessa superfície,
o destruir de toda a aparência de tudo o que possa aparecer
Enterrar tudo para fugir a toda a confusão da luz do dia

Estive todo o dia a espera da noite
e quando a noite chegou,
eu esperei até que de mim me perdesse completamente
arranquei-me do peito, esfolei-me lentamente
e retirei-me de mim, cavei-me toda em dor,
para da esperança poder retirar novamente quem sou

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