Sunday, December 30, 2018

vai

Ninguem me conhece melhor que tu,
os meus defeitos, o meu mau feitio, os meus prantos e eu envio-te para o mar para o lugar de onde vieste
Ninguem sabe onde eu ando melhor que tu, os meus sonhos, os meus desejos, as minhas agonias, e ninguem pode ferir me mais que tu, e tu feriste
E por isso, segue o teu rumo, se feliz, se ausente porque tu me prendes, se apenas tu.

Ninguem no mundo, eu podia amar mais, e por isso mesmo tu me prendias, para os teus dias tristes,
prendias me para a tua felicidade privada e solitaria, mas nos dias de sol me largavas ao vento sozinha,
por isso vai, vai te ao mundo, segue em frente mas nao me uses como desculpas para a tua propria sombra.

Vai e deixa-me ir, deixa-me esvair-me em mim ate eu tornar-me novamente agua,
deixa-me esvair-me em prantos e memorias nossas que se vao pelo ralo.
Eu nao quero a tua escuridao eu queria-te todo e completo. Nao me venhas reclamar ao ouvido que a culpa dos teus problemas sou eu.
Nao me venhas dizer que amei sozinha, porque nao te deste por inteiro,
porque eu sempre fui inteira para ti, eu sempre entreguei tudo e foste tu quem tiveste medo.

Vai, mas nao me procures mais como ser reptil, nao me procures como fuga de ti, nao me procures como cobarde, e nao finjas ter coragem se nao a tens.

Porque eu sempre fui toda e inteira, eu sempre estive la quando precisavas, sempre fui o teu ventre e o teu consolo, mas nao posso dar mais do que o que sou.

Vai e se quem tu es por ti proprio. Porque a vida e curta, e o meu amor por ti nao vai ser capaz de me destruir.
Por isso meu mando-te e deixo-te ir,apenas ser sem redeas e menos cobarde.
Deixa-me e nao fujas de ti.


Sunday, December 02, 2018

you

No one can see you,
Only me

When you walk by the streets you are only solitude
when you are living in my dreams at night you are alive,
You are the ghost lost in my imagination

No one can catch your real you in day light
No one who sees you can really see who you are

When Your body moves, it moves without soul
Your face is hopeless, your face is pale
Your body is cold every single time it touches mine.

And when we meet I will find you lost in your private space,
Each time you call me I hear a desperate call for survival
Because you are only alive inside the spirit of the night

And everytime I see you I see a soul
Everytime you touch me I feel you inside myself
And your eyes are empty, your voice is hopeless
Your skin is already so cold and it is so thin

Everytime I see you, I only see myself
Your will is so wild, and your body so frail,
I see only the shadow of your body moving fast towards mine,
In a second we kiss and I remember that everything is vain,
how love is the glimpse of a moment.

And when you touch me, I feel my internal fire coming up
I know it is the time, I know it is me, fighting for my own survival,

When you are too close to me, I feel my will vanishing,
your closeness brings my closest dreams of you coming to the surface,
and it is in vain that i try not to lose myself,
when a second pass, I am already inside the oceans of your soul
And my internal fire is the only thing that makes us alive, when we are only one lost soul, inside the oceans of your seas.

In a single moment you come to live in me and we are travelers in the oceans of your soul
In a single moment you go away and I am just that empty tree





Friday, November 30, 2018

Enemy

One day I looked at myself in the mirror and I saw the face of my greatest enemy, while the tears were falling down on my face because I new I could never forget someone, so similar to me.

Everytime I would look in the mirror I would remember him.
How could the man who had attacked my life be so physically like me?

The man that I once tried to love, the same man who persecuted me, and my greatest enemy,

He shares traces in common with my face, in our relationship of friendship without balance, we had no doubt similar parts of the body, 

 I watched myself in the mirror, and terror seized my face, the terror of knowing that my greatest enemy could be myself, the terror of knowing that I could end my own life, or persecute someone, be the enemy of me, or worse, I could one day, like him, be the greatest enemy of someone who loves me. 

 I watched, my face and the shame ran out of my soul, the shame of knowing that I shared the same traces with a monster, both humans, it's hard for me to accept my human condition since I met you, a monster that still haunts my memories, how can a human being want to destroy, do to so much harm to someone else. 

We shared moments together, you saw my pain as your own, you recognized me and you tried to love me, you swore and you made promises, we had so much in common one day, I ask myself, how could you? How could you try to steal the flower of life out of my chest? 

How could you try to take the color off from my face, to take out my own life? How could you forget that we were so alike in the moment you tried to possess me by force? How could you stop seeing me physically, so similar to you?

inimigo

Eu olhava me ao espelho e via o rosto do meu maior inimigo, as lagrimas caiam sobre o meu rosto porque eu nao poderia nunca esquecer
Como o homem que tinha atentado contra a minha vida, podia ser tao fisicamente parecido comigo?

O homem que um dia tentei amar, o mesmo homem que me perseguiu, e quiz o meu maior mal,
partilhava tracos em comum com o meu rosto, numa relacao de amizade sem equilibrio, tinhamos sem duvida partes do corpo semelhantes,

eu observava-me no espelho, e o terror apoderava-se do meu rosto, o terror de saber que o meu maior inimigo podia ser eu mesma, o terror de saber que eu mesma podia dar cabo de mim, perseguir alguem, ser inimiga de mim, ou pior, eu podia um dia, como ele, ser a a maior  inimiga de alquem que me ama.

Eu observava, o meu rosto e a vergonha opoderava-se da minha alma, a vergonha de saber que partilho coisas em comum com um monstro,
ambos humanos, custa me aceitar a minha condicao humana desde que te conheci, monstro que ainda assombra as minhas lembrancas, como pode um ser humano querer destruir, fazer tanto mal a alguem

partilhamos momentos juntos, viste a minha dor como tua, reconheceste-me e tentaste me amar, juraste e fizeste promessas, tinhamos tanto em comum,
eu pergunto me, como pudeste? Como pudeste tentar arrancar a flor do meu peito?
Como pudeste tentar tirar a cor do meu rosto, a minha propria vida?

Como pudeste esquecer que eramos tao parecidos no momento que me tentaste possuir?
Como pudeste deixar de me ver fisicamente, tao igual a ti?




Wednesday, November 07, 2018

madrugada

A Vida e dupla. E eu sou suja. Sigo Cansada, Amada, amando e ocupada. Sempre que A Vida camufla-se em ausencia persegue me e nao me deixa em Paz.

Eu fiz o que pude para esquecer-te, pintor inconstante, amigo inseguro, irmao do meu corpo e do meu destino, em todas as ruas do nosso bairro nos encontramos solitarios,
da mesma forma que todas as veias do meu corpo se estendem em direcao ao teu corpo, desfazendo-se o meu sangue na mesma coisa que o teu.


, porque Tu afirmas nao me quereres Como mulher mas Tu nao me deixas em paz, nao aceitas a minha independencia, mas nao me das sossego, persegues me em sonho e em tentacao.

E tudo o que faco e tentar sobreviver do nosso amor ausente e desconhecido de si mesmo. Por que tu dizes nao me quereres mas nao deixas de me querer.

E por isso mesmo Eu faco me tua, por me deixares tao so,
talvez por negacao a mim mesma, deixo me ir contigo por rebeldia a minha propria vida, sigo contigo para a morte da minha vontade de mim.

E andamos a noite juntos famintos como vampiros, sobrevivemos inseguros a humidade e sujidade das madrugadas,

 andamos juntos nas madrugadas que sao os momentos que ninguem quer,
bebemos, e amamo-nos como desconhecidos, como se fosse a primeira vez todas as vezes que estamos juntos.

E em segredo tentas fazer me crer que nao me amas,
E em segredo nao me consegues deixar talvez, porque temos a solidao como lugar comum.

E a tua ausencia todas as manhas, traz me a realidade do vazio que a vida pode ser,
E a tua presenca em noites especiais, traz me a crua e amarga beleza da vida
Trazes me de volta a natureza cruel do que a vida pode ser, a crueza de nao saber o que vai ser do amanha,

, largas me e deixas me desprotegida de frente com as feras da vida de todos os dias, deixas-me seguir sozinha, solta e largada em direcao ao vento.





Monday, July 23, 2018

ele

Ele era a minha nuvem, a minha cruz e a minha existencia
Dele eu nao era nada, ainda assim eu era a unica ancora que o prendia ao mundo
Porque ele era artista, crianca, pintor
Nao tinha corpo, nem dinheiro, nao tinha coragem nem amor.

Ele era sonho, imaginacao e contemplacao
Eu era corpo, fantasia e ilusao
Porque eu era dada, escolhida, eu era o dia e a noite dele
Eu era as tarefas diarias de comer e dormir
Ele era a expresao do amor, a beleza que existe dentro e fora do mundo
E que nao tem forma onde se expressar, senao pela arte em grito de revelacao

Quando eu era solidao, apego e carencia
Ele era liberdade, paixao e sonho

Ele falava e eu seguia
Ele sonhava e eu concretizava
Ele desenhava, eu cultivava
Eu era terra, ele era agua
Ele era ceu, eu era arvore

Todos os dias eu fazia comida, e ele nao comia
Todos os dias ele lamentava o sofrimento e eu ouvia em silencio
Todos os dias eu seguia e ele fazia por nao ser seguido
Todos os dias dormiamos juntos, mas ele apenas sonhava
Todos os dias eu cantava mas ele nunca estava la para ouvir
Todos os dias estavamos juntos, mas ele era livre como o sol e eu deixava me solta como flor
Todos os dias ele me inspirava, e todos os dias eu nao era nada para ele, no entanto eu era o folego que  o fazia sobreviver, e o corpo que o mantinha vivo

Friday, July 13, 2018

flores

As lagrimas sao pequenas comparadas com a curta vida das rosas
Eu queria te ao meu lado, queria dar te colo, afastar te da dor
Segurava a tua mao debaixo dos lencois enquanto procurava encontrar o teu coracao.

Eu queria ver te livre do passado, com o meu amor libertei te, atraves do meu suor
Dei o meu corpo, dei a minha alma mas afaguei te em meu peito e libertei, fiz te livre outra vez

Dei te o meu corpo, o que querias a liberdade mas fiquei presa na tua antiga dor
O momento foi o certo, para ti e para mim, por que eu tinha o meu peito que esperava e ansiava por ti ha muito tempo
E tu tinhas muito peso para carregar e precisavas alivar a dor que trazias

Carregavas a tua pesada carga todos os dias e eu via-te a voltar do trabalho e a sofrer as dores e um trabalho forcado.
Via te e amava-te em silencio, em silencio esperava por ti, por meses que pareceram anos.

Quando me chamaste eu fui, resisti muitas vezes, no entanto, ate a um certo ponto, num dia nao resisti em ter-te em meus bracos.
Queria abracar-te sentir o teu calor de menino, mas nesse dia tu quiseste me como mulher. Amaste me e quiseste mais, amaste me e esqueceste

Por poucas noites, senti o teu suor e respirei a tua presenca, embrulhei me nas tuas labrimas e deixei o teu corpo ocupar o meu. Deixei o teu suor, sufocar-se em mim.
Mas o nosso amor tinha a duracao das flores do campo, o nosso amor cheirava as petalas das flores dos jardins.

Nos amavamos a noite, mas de dia eramos desconhecidos, amavamos em segredo e de dia seguiamos com os nossos fardos.

Tudo o que eu queria era libertar-te do passado, queria trazer felicidade a tua alma, trazer alguma luz as tuas lamentacoes.
Todos os dias contavas me tudo o que sofrias. Gritavas por liberdade. E eu deixava-me tingir das cores tristes que trazia a tua alma, eu deixava me tatuar de ti, mas em segredo, queria tambem o teu corpo, a tua presenca em mim.
Queria todos os dias relembrar o teu corpo palido e nu a meu lado.

Tudo o que querias era ser livre, querias soltar o teu traco leve no vento, querias levantar as brumas que se cobriam sobre a tua vida, e vias na minha alma uma tela onde te podias soltar.

Eu enquanto deixava me ir em ti, abandonava-me a mim mesma, amava-te e fazia me por esquecer de que sabia que me abandonarias, sabia que me abandonarias quando eu nao te servisse mais.
O sol nao aparece todo o dia no ceu e as flores nao vivem para sempre.

Tu disseste que querias ser livre eu fiz te livre, mas deixei me desvanescer, deixei me morrer em teus bracos, o meu amor.





Monday, July 02, 2018

a

Ele carregava um grande peso, sozinho no seu quarto abrigado, preso, megulhado sem ninguem o tirar de la. Em seu quarto mergulhado em memorias ele desaparecia-se do mundo.
Eu entrei como amiga, sai como desconhecida, entrei novamente como irma e sai como amante.

Aquele quarto era o que cobria os seus dias, enquanto ele tatuava tudo o que houvesse em cinzento, a sua vida era apenas vida no passado.
Ele deixava-se desabafar apenas comigo enquanto eu secretamente amava o vazio do seu olhar.

O seu espaco especial, era tudo o que ele tinha, tudo o que permanecia de tudo o que havia perdido,
famila, filho, pais.. Ele era apenas a tatuagem, a pintura que fazia, a arte e a ausencia.

E eu deixava me adormecer em seu peito, megulhada no seu abraco gelado. Mergulhada no suor do seu corpo branco, tatuado e nu.
Aceitei o seu passado que o carregava e o preenchia, aceitei todos os copos de cerveja, todas as vezes que ele deitava se a meu lado sem alma e sem cor.

A sua alma sussurrava por mim sem forcas suficientes para se fazerem ouvir, o silencio engolia toda a forca humana que existia em seu corpo e ele sucumbia em repetidas memorias que me ia contando,de como a vida o tinha retirado tudo, de como tudo o que importava fosse apenas passado. As musicas que ouvia, as fotos que tinha em seu quarto tudo  pertencia ao passado, como se ele vivesse em um mundo proprio das memorias que guardava.

Como amigo, ele me alertou, que nao sabia quem era quanto mais quem eu seria, se ficariamos juntos ou nao nada disso importava, nada disso realmente existia. E com palavras frias ele cortava o meu peito em farrapos, enquanto o seu corpo seco me abracava e a sua alma silenciosamente clamava pelo meu peito, para que este o retirasse do sofrimento. Como crianca assustada a sua alma tentava existir em mim, talvez atraves do eco da sua propria voz, mesmo a sua alma sendo como uma estrela que brilha mas que ja nao existe mais.

E por cada copo de cerveja que bebia, mais a sua alma desaparecia na escuridao. Por cada historia do passado que me contava mais a vontade de viver lhe abandonava o corpo. Como se toda a vida se quisesse esvair de seu corpo, como se o seu corpo fragil nao tivesse espaco para mais o que viver e mais o que sentir.

Eu tentava contar novas historias, tentava ouvi-lo, amei-o com tudo o que eu tinha mesmo assim, a vida nao retornava a seus olhos. De olhos vazios, disse me que nao encontrava espaco para mim em sua vida, enquando os seus olhos vazios se tornavam apenas indiferentes.

Da indiferenca, os seus olhos tonaram-se tristes mais uma vez, e eu sem resposta, deixei me ir sozinha. Ele repetiu que nao me conhecia, que eu nao faria parte de sua vida.

E assim finalmente, quando o frio atingiu o meu corpo, fiquei sem resposta, tornei me apenas o vacuo, por que tudo o que sentia por ele era amor, fiquei sem odio, apenas ausente de mim mesma.
Deixei o quarto que continha a sua alma  e as suas memorias a sos. Deixei o seu corpo nu, palido e vazio da propria vida  estar por si mesmo sozinho e carente.



Tuesday, April 24, 2018

terras

Eu estava em terras de estrangeiros,
trabalhava para esquecer a dor, a dor que vem com as noites que precedem os dias.
Estava em terras de estrangeiros, sendo eu mesma a estrangeira para mim mesma.
O ceu coloria-se de novas cores a cada manha, mas a minha mente agarrava-se sempre a antigas impressoes e nebulosidades.

E isso me intristecia, eu ficava triste por nao poder ser um passaro, irrequieto e esquecido.
Lembrava-me de todas as vezes em que o tinha encontrado naquele mesmo cafe onde eu ainda frequentemente ia.
E de como o seu cabelo era reluzente a luz do sol. E de como ele estava triste e perdido, com saudades da sua familia longe e de como naqueles momentos tudo o que eu queria era afoga-lo em meu peito.
Lembra-me do meu amigo, que eu sempre encontrava naquele mesmo cafe e que sempre vinha ate mim com novas historias para contar. Tao carente de ser ouvido, falava durante horas e tudo o que eu queria era viver e ouvir serenamente todas as historias que ele tinha para contar, queria viver a fundo toda a sua solidao. Aprender com ele e viver com ele todos os seus medos e receios.
Vivia com a felicidade da lembranca de ter caminhado na natureza com aquele meu amigo e de ouvi-lo a contar-me historias tao antigas daquele pais.

Aquele pais era de estranhos para tantos amigos meus, mas apenas eu parecia viver estrangeira para mim mesma.
E eu queria chorar pelos outros e por mim, apenas porque depois dos dias seguem-se a noites,
e eu parecia deixar-me apaixonar por cada pedra brilhante que passasse pelo meu caminho.



Thursday, March 01, 2018

impressoes

Eu observava e amava cada movimento do seu traco leve. O dia estava cinzento, mas ele pintava tudo o que lhe ia na alma e ia colorindo os muros do seu mundo interior, enquanto isso iamos falando e o meu peito timidamente procurava explorar a sua dor.

E pela neve caminhavamos juntos procurando no escuro uma saida lado a lado, juntos afogavamo-nos nos silencios do tempo e deixavamos percorrerem-nos as duvidas que tinhamos um do outro.
Ele nao era livre de si mesmo nem para estar comigo, tinha os seus fardos para carregar, a sua familia longe num pais distante, e eu sentia me injusta em  cobrar lhe pelo meu amor fosse o que fosse.


O rapaz que pintava, continuava pintando a sua historia no meu coracao, e a pouco e pouco eu me afeicoava a ele como se ele fosse meu filho ou o meu melhor amigo, quando eu dizia uma piada a mais subitamente eu cedia-me demais e ele acabava parecendo como o meu pai. Quando algo de errado acontecia ele sempre estava a meu lado. Me assustava a sua forma de pintar a minha alma, me assustava a forma dele sem falar nada, com um olhar conseguir sugerir a cor que tinha tingido o meu coracao. Cada vez que o sentia, a minha natureza mais pura se refletia, seria isso amor? Seria apenas carinho ou compaixao?

E eu continuava a ama-lo mesmo em todas as vezes em que ele era imaturo e nao sabia reagir, mesmo apesar de todas as vezes que ele deixava-se ir pelas emocoes como crianca, eu amava todas as vezes em que havia silencio entre nos, em vez de abracos e sorrisos forcados, amava-o por ele ser tao transparente e sincero quase parecendo imaturo. Amava-o porque nunca haveria uma palavra de falsidade em sua boca, nunca sequer haveria palavra alguma. Todo ele era expressao pura e em bruto, poderia haver um desenho destemido pintado por ele, uma expressao ou um grito desolado em forma de protesto mas nunca uma unica pura palavra sairia de sua boca que me pudesse enganar ou ofender. E isso me comovia, isso me fazia ama-lo e respeita-lo um pouco mais. Juntos eramos como terra e instinto, eramos de carne e osso, feitos diferentes masda mesma essencia e estavamos confortaveis apoiados um no outro.

Na verdade era incrivel como ele nunca desenvolvera esse mecanismo sinico de defesa chamado mentir com palavras, como eu. E era por essa razao, que eu sabia que nele podia confiar meus segredos mais do que eu confiava em mim propria.
Enquanto ele era sincero em suas palavras eu era sincera em tudo o que eu podia ou nao ter, entao ele depositava em mim tudo o que ele queria deixar em local seguro para nao perder.
Eu tinha extrema confianca no seu ponto de vista, porque tudo nele era sincero, directo, verdadeiro e livre, ele sempre sabia o que era certo e errado apenas por instinto. Tudo nele era livre, e se algum dia as minhas palavras e ideias me tornassem arrogante ele me diria na minha cara, e me confrontaria e me envergonharia com um grito de protesto, sem palavras que se juntassem a minha confusao.

E se algum dia a liberdade dele o levasse ao fracasso e ninguem entendesse a sua expressao, eu poderia usar da forca que restasse em mim para o explicar que ele estava certo  e ele seguraria a minha mao para aguentar-se do frio e erguer-se depois de um dia de trabalho excessivo. Nos dias frios ele procurarava abrigo em meu peito como se o meu peito fosse um porto seguro onde ele poderia despejar todas as suas impressoes.

E foi assim, que eu me tornei essa rapariga que escrevia e  ia amando em segredo esse rapaz que pintava sozinho protegido do frio no seu quarto fechado.

Friday, January 12, 2018

perdao

A infancia acabou. A vida acabava.
Tu te disfazias do que eu sentia como se eu fosse uma roupa que nao te servisse mais.

Eu calava e chorava, ao ver-te partir. Tu nao me deixavas para tras, respondias as minhas perguntas mas o tempo que me fazias esperar antes de responders fazia-me prever o que aconteceria depois.

Eu sabia que nunca te iria esquecer, eu sabia que ja terias esquecido quem eu era.
Mas ainda assim eu te amava, eu bebia para te esquecer eu fumava para esquecer teu corpo.
Recusei-te todas as vezes que pude afastar o teu corpo do meu, escolhi outro para tentar fazer-te ver quem eu era, mas eu sabia que nao havia volta a dar, que provavelmente nao voltarias.
Que provavelmente nao me amavas como eu te amava, e por isso eu em vao tentava fingir ignorar-te

E a vida em mim se recolhia, pouco a pouco o medo se instalava e eu tinha medo, medo que o meu peito endurecesse como a pedra de uma calcada.
E o medo me fazia agir, eu procurava onde me segurar, alguem onde me pudesse agarrar, um amigo, um apoio. Como um mendigo, eu apenas procurava um pouco de atencao, as vezes eu conseguia, as vezes nao.

Por que apenas tu eras o meu verdadeiro apoio, por que apenas tu realmente me ouvias e me compreendias, mas por que nao vias o nosso amor?
Por que nao acreditavas? Porque nao voltavas?

Eu abandonei-te por impaciencia, nao aquentei a tua impermanencia, os dias que esperava que chegasses, os dias que lembrava de como o teu toque tocava a minha alma e dava sentido a minha existencia,
Eu queria que me deixasses, eu fiz o que pude para que me deixasses, porque eu nunca te abandonaria, e sabia que nunca te iria esquecer mesmo que nao me amasses. Quando eu percebi que nao me amavas fiz questao que me odiasses.

E tu dizias que nao me amavas, e eu compreendia, que nao estavas pronto para me amar.
Por mais que me contasses que nao me amavas eu nao acreditaria, nao iria acreditar que o sol deixasse de brilhar, que a morte estivesse a chegar, nao podia acreditar que a minha juventude tivesse acabado.
E enquando eu te guardava num lugar sagrado em minha memoria, eu percebia, o que eu nao tinha. A minha vida tinha acabado, e de facto eu sabia que nunca mais seria capaz de acreditar em ninguem.


Eu fazia questao que nao voltarias, porque nunca conseguiria sobreviver na presenca da tua ausencia de mim, antes preferia que me odiasses, preferia te ignorar para sobreviver das migalhas da minha raiva de ti.